segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O QUE É LITERATURA?



 O QUE É LITERATURA? - continuando o debate e convidando outras a se manifestarem.
Neste fim de semana (15 setembro 2013), Teresa Lírio e Vera Guimarães, numa troca de e-mails, fizeram as seguintes reflexões:   

Teresa Lírio
Fiquei com vontade de continuar pensando na questão trazida pela Vera, sobre o que é, e o que não é literatura. Acabei de ver um programa sobre José Lins do Rego, e o comentador disse que a  Escrita dele era digna de ser chamada de Literatura.
Por coincidência, ontem li uma entrevista com a filósofa Olgária Matos, criticando a falta de discernimento em relação à literatura, dizendo: "Agora, considera-se tudo literatura. No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais substituíram literatura brasileira e literatura portuguesa por expressão escrita". Diz que assim a Educação não vai funcionar! Para ela a literatura deveria ser capaz de reconstituir e elaborar os afetos humanos.
Acho que também é literatura o que nos leva a refletir, que abre para múltiplas interpretações, que nos desperta interesse, curiosidade, estimula o questionamento e provoca expansão de nossos conceitos e valores... mas que difícil então discernir... Ciência, filosofia, textos religiosos, jornalismo, informações técnicas x literatura... O que acham? Bj
Vera Guimarães
Lírio, acho que esse questionamento deveria ser postado para todas nós pensarmos.
Acho ótimo que se substitua LITERATURA por expressão escrita. O que vai dizer se algo tem valor estético é o tempo. O fato de uma determinada escrita se enquadrar nos cânones não significa que tenha valor artístico.
A arte, a ciência, as relações humanas ocorrem em ondas de tradição e ruptura.
Hoje não se dança apenas como se dançava em 1800. 
Da mesma forma, não escrevemos apenas como Alexandre Herculano escrevia.
Os modernistas, só pra citar uma corrente, quebraram os padrões de métrica, rima, ritmo e temática. Foram apedrejados, da mesma forma que os primeiros sambistas. Por outro lado, nem todos os escritores que se insurgiram contra a tradição sobreviveram artisticamente. Não seria por romperem com a tradição que seriam bons.   
Nas ciências, nas artes e nos costumes, caminhamos dessa forma:
Tradição > Consolidação > Ruptura > Acomodação > Reconhecimento > Tradição de novo e assim por diante.

Teresa Lírio
Concordo com você, Vera, que no campo literário, como nas artes e na música, ninguém pode arbitrar o que tem valor. Mas, não seria possível e desejável uma delimitação do que é o campo literário? Uma informação, um panfleto, um manual, uma tese de mestrado em uma área de exatas, por mais que sejam expressões escritas, eu não entendo que possamos considerar um texto literário. Em certas situações, para mim, a distinção fica clara, mas em outras, há uma mescla. Mas acho essa questão muito interessante, e básica para nós que somos uma sociedade literária, não é? Que tal postarmos no blog? 

Vera Guimarães
Nós precisamos mesmo de categorizações e limites. No campo didático, que é o de que tratam os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, e se eu fosse professora de literatura, eu trabalharia com a tradição E com a ruptura ao mesmo tempo. Eu acharia insano o professor que só falasse em Camões. E acharia lunático o que admitisse "eles pega o peixe" sem fazer a distinção entre fala e norma culta. 
Então? E não é que um relatório do então Prefeito de Palmeira dos Índios, AL, o Sr. Graciliano Ramos, hoje pode perfeitamente ser trabalhado em sala de aula como uma valiosíssima peça literária? Ele não teve essa intenção ao falar de contas públicas e mata-burros. Quando Sêneca escreveu suas cartas, talvez não pensasse em produzir obra estética, mas, sim, em dar conselhos a seu amigo, o que hoje classificaríamos como autoajuda. Então, também não é o gênero da escrita que determina o seu valor. A poesia contida em muitos blogs da modernidade ou em postagens nas redes sociais talvez daqui a algum tempo seja reconhecida como literatura, e seu autor seja futuramente elevado à glória. Só o tempo pode mostrar o que tem valor.

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