quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"O BANQUEIRO DOS POBRES" -POR THERESA L.






Debate 29-08-2013
Local : Casa da Rosete
Apresentadora : Tereza Lírio
Presenças: Adivany, Bia, Conceição, Lília, Luzimar, Luciana, Maria Célia, Marília, Marilena, Terezinha, Nena, Thereza, Sylvia, Vera e Zezé.

O Banqueiro dos Pobres/1997 - Muhammad Yunus

Seguindo a boa tradição do nosso grupo, apresento o autor  e a história da implantação dos projetos do micro crédito e do Banco Grameen em Bangladesh .  Difícil separar os dois. A vida e as características de personalidade do autor estão presentes no projetos.

Trago também a atualização de alguns dados pois como o livro foi escrito em 1997, temos ainda 16 anos  de novidades, os dois  continuam vivos e evoluindo .

Para o  Debate, proponho uma experiência diferente da que temos tido, porque esse é um livro diferente.  Um livro que conta a história de um homem, de um pais e de um projeto de transformação social, e comporta análises a partir de vários vértices: geográfico, filosófico, econômico, político, psicológico e claro literário! Assim, proponho uma discussão por temas, e, espero que possamos conversar bastante, pois certamente todas terão opiniões e contribuições a dar.  

Sobre o autor , como ele mesmo conta, na primeira parte do livro:
Nasceu em 28 de junho de 1940, a mãe teve 14 filhos, nove sobreviveram , ele era o terceiro filho. Passou a infância em Chittagong, onde nasceu. Pai joalheiro. Não era severo em questões de disciplina, mas era intransigente com tudo o que dizia respeito ao estudo. Era um mulçumano piedoso.
Mae, mulher forte ,decidida, queria que os filhos fossem metódicos iguais a ela.  Era cheia de compaixão e bondade, e exerceu grande  influencia sobre Yunus. Ele era apaixonado pela mãe. Sobretudo pelas historias  que ela  contava e pelas canções que cantava, “era a fonte de todos os nossos sonhos e de todos os nossos espantos”. Impregnava ideias com afetos o que se constitui fonte de criatividade e vida.  Também era muito amigo do irmão Salam. Gostava de ler, se destacava na escola que tinha um ensino bem completo – artes,  musica,  poesia,  respeito pela autoridade e disciplina. Aos 12 anos  escreveu uma serie policial .

 Se a marca de sua personalidade era a criatividade, a transgressão criativa também estava presente. Para ter fontes de conhecimento,  fazia o que precisasse, até roubar”, como quando se fez passar por um colega que ganhou o concurso,  para receber as revistas de premio, e quando pegava o dinheiro do cofre do pai para comprar livros e revistas. Questão psicológica e ética:  é  tênue o limite entre o delito e a transgressão criativa, mas é  clara a oposição entre esta e traços de personalidade como submissão, acomodação a uma realidade aparentemente sem saída, passividade e dependência.
Lutou contra isso em tudo o que fez .

Aos sete anos, em 1947 viveu a independência do Paquistão ao separar-se da índia como colônia britânica,  dando origem ao  Paquistão oriental e ocidental separados por 1500 km. Relata as lembranças de criança, e o sentimento de vigoroso orgulho nacional ao ver as bandeiras e a saudação: Longa vida ao Paquistão.
Era uma criança que registrava emocionalmente suas vivências e dava significado aos acontecimentos.
Quando tinha 9 anos, a mãe começou a ficar irritável. Gritava insultos, tornava-se violenta. Atacava a todos e principalmente o pai. Depois da crise a mãe voltava a ser doce, dava amor aos  filhos e ocupava-se dos pequenos.  Em desespero, recorreram a tudo. A  mãe ficou dependente do ópio. Morreu em 1982 com o amor e o cuidado do marido.

Com a doença da mãe,  o pai assumiu muito, e incentivava ao máximo os filhos a se desenvolverem intelectualmente.  Ressalto a  capacidade do pequeno Yunus de transformar a experiência  com  doença da mãe, que ficou imprevisível, (uma mãe com a qual nem sempre podia contar),  em desejo de autonomia e enfrentamento da realidade. Não ficou  melancólico . Por mérito ganhou bolsa de estudos, tinha interesses variados – fotografia, pintura ,desenho e cinema. 

No  escotismo, ligou-se a Quazi, que tornou-se  o amigo filósofo e guia. Conta a experiência vivida  aos 13 anos , na viagem ao Taj Mahal e de sua sensibilidade em  apreender a emoção de seu amigo. Em  1973 , depois da guerra da libertação Quazi foi assassinado.

Formou-se aos 22 anos e ensinou em sua universidade de chittagong até 1965.
Começou a fazer negócios  de embalagem, e implantou uma gráfica.

Estudou nos Estados Unidos de  1965 a 1972; sentiu o choque  da diferença cultural, era tímido nos relacionamentos afetivos e nas situações sociais, mas se expressava politicamente contra a guerra do Vietnam, e se destacou tornando-se assistente  do professor.

Casou-se em 1970.
 
Em 1971 participou a distância, mas com muito entusiasmo da guerra da independência. Constituiu  grupos, arranjava fundos, participava de manifestações.  Bangladesh se torna um pais independente.

Ao voltar para dar aulas na Universidade de chittagong ( 1972 -1974), defrontou-se com a maior fome de Bangladesh, e isso o fez questionar a atividade acadêmica e voltar-se para a atuação na comunidade.
Em sua sensibilidade e capacidade de sintonia com o outro, constata que a pobreza era a negação efetiva de todos os direitos do homem. Diz que sua universidade passa a ser a aldeia de Jobra, e seus habitantes os seus professores.
O que viu? Pobreza, agiotagem, escravidão, situação abusiva em relação as mulheres . Injustiça.
O costume mulçumano do purdah, que leva as mulheres casadas a se isolar do mundo externo era estritamente observado. Ele considerava que esse costume condenava as mulheres a submeterem-se a violência dos maridos e a uma dependência empobrecedora. Como sendo um mulçumano podia ter um olhar tão diferente? Talvez pela presença amorosa da mãe, fonte de todos os sonhos e de todos os espantos”? e/ ou devido ao  exemplo de um pai que respeitava e cuidava da mãe mesmo doente?
Em seus estudos  em Jobra,  envolve-se com a situação de cada mulher que está escravizada e condenada a miséria. Tenta resolver o problema  emprestando de seu bolso 27 dólares a 42 pessoas. Diz ter vergonha de pertencer a uma sociedade incapaz de dar 27 dólares a 42 pessoas para ajuda-las a sobreviver por si mesmas.
Mas o que fazer? Sabe que é uma solução insatisfatória.  Procura os bancos, procura parceiros e por fim cria o Banco Grameen, baseado na crença de que todo os homens são criativos e de que a pobreza não é um problema de pessoas, mas da sociedade que não oferece oportunidades. O Seu projeto de microcrédito , na verdade é um projeto de uma rede social, que envolve e compromete os seus participantes , enfrentando preconceitos e promovendo mudanças de valores. Os créditos eram dados à mulher, a casa ficava no nome da mulher. Não havia a necessidade de garantias, o que significava confiança e valorização dos participantes que correspondiam, pagando sem inadimplência. Além disso as condições para participar envolviam mudança de hábitos para melhoria da qualidade de vida.
O Banco se expandiu em Bangladesh e em vários outros países.

Atualização :
Em 2006 ganha o premio Nobel da paz.
Escreveu mais dois livros:
– Um mundo sem pobreza: a Empresa Social e o Futuro do Capitalismo, 2008
e,  - Criando um negócio Social .
Há 3 anos aposentou-se ,
mas continua consultor da Fundação Grameen, com sede nos Estados Unidos.  Existiram algumas acusações contra Yunus, de não pagar  imposto de renda, e de usar o dinheiro do banco em seus projetos sociais.
O Banco grameen cresceu e hoje está presente em vários continentes  - Yunus esteve recentemente no Brasil e deu os seguintes dados referentes ao Banco em Bangladesh:  8,5 tomadores de empréstimos. 97% de mulheres. Inadimplência de 3%. Taxa de juros de 20% ao ano. Para educação 5% ao ano. Os estudantes só começam a pagar depois que começam a trabalhar.
Foi  ampliando suas atividades, (telefonia, fabricas de iogurte, hospitais, e outros,  na passagem do microcrédito para o empreendedorismo, ou negócios sociais. Hoje é um personagem global.

Questões :
Sobre o livro :
1)Gostaram da leitura? Foi uma experiência tocante emocionalmente? E  como literatura ?  A argumentação  foi consistente, convincente, clara, interessante, maçante, repetitiva? Que outros aspectos gostariam de ressaltar?

2) Sobre o alcance desse projeto. O que significa esse dado de tirar da pobreza 120 milhões( na época), considerando Bangladesh hoje.
Realidade : Um pais com 160 milhões de habitantes  em uma área semelhante ao estado do amapá, assolado por mazelas naturais e humanas, como   a  corrupção, a crise política, ainda os pré-conceitos , a posição das mulheres, casamento arranjados de adolescentes.  O que acham?



3) Comparando com nosso pais, semelhanças e diferenças.  E nossos programas Sociais?

4) Outras questões.


Entrevista publicada na Revista Época, em 09/06/2013:


Muhammad Yunus: "Dar dinheiro para os pobres mascara a miséria"
INOVADOR

O prêmio Nobel Muhammad Yunus, fotografado na semana passada em São Paulo. Ele tentou, mas não conseguiu trazer seu banco ao Brasil durante o governo Lula (Foto: Marcelo Min/Fotogarrafa/ÉPOCA)
O economista Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz em 2006, foi um visionário ao apostar na concessão de microcrédito e no empreendedorismo para reduzir a miséria em Bangladesh, onde ele nasceu e vive até hoje. Fundador do Grameen Bank, em 1976, e autor do livro O banqueiro dos pobres (Ed. Ática), Yunus contribuiu de forma decisiva para popularizar o microcrédito em todo o mundo. Segundo ele, o empreendedorismo é uma solução mais eficaz do que programas assistencialistas, como o Bolsa Família, para reduzir a pobreza. “Dar dinheiro para os pobres não é uma solução para a miséria”, diz. “É uma forma de mascarar o problema.” 

Afastado do Grameen há dois anos, Yunus agora se dedica a outros negócios sociais, como uma companhia que vende painéis de energia solar de baixo custo, uma escola de enfermagem e um hospital oftalmológico. Na semana passada, ele esteve no Brasil para anunciar o lançamento de um fundo local de investimento em negócios sociais e participar da abertura do ciclo de eventos do Movimento Empreenda, promovido pela Editora Globo, que edita ÉPOCA. Nesta entrevista, ele fala sobre sua tentativa frustrada de abrir uma base do Grameen no Brasil durante o governo Lula, sobre a tentativa do governo de Bangladesh de desacreditá-lo e de estatizar o banco e sobre os empreendimentos em que está envolvido.
ÉPOCA – O senhor foi o criador da ideia de que é possível resolver o problema da miséria por meio do microcrédito e do estímulo ao empreendedorismo. Em sua opinião, essa é uma solução mais eficaz do que o governo dar dinheiro às pessoas, como acontece no Brasil, com o Bolsa Família?
Muhammad Yunus – Dar dinheiro não é uma solução. É uma forma de mascarar o problema. Você deixa de ver o problema, porque as pessoas conseguem sobreviver, comer, se divertir. Parece que está tudo bem, mas não está, porque o dinheiro não é delas. Então, a doa­ção de dinheiro é uma solução temporária e não permanente. Para termos uma solução permanente, as pessoas têm de cuidar de si mesmas. Só assim elas podem se tornar agentes ativas de mudança. As crianças de uma família que depende de subsídios crescem acreditando que não precisam trabalhar, que podem sobreviver sem ter de se esforçar para melhorar de vida. Essa não é uma solução permanente para o problema da miséria.
ÉPOCA – Alguns anos atrás, o senhor esteve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, quando ele estava no governo, e falou sobre seus planos de trazer o Grameen ao país. Por que a ideia não avançou?
Yunus – Na época, ele demonstrou um grande entusiasmo pela ideia, mas não deu sequência. Seu pessoal, que deveria nos contatar depois, não deu continuidade ao projeto.
ÉPOCA – Talvez ele tenha imaginado que o Grameen pudesse fazer sombra ao Bolsa Família...
Yunus – Não sei a razão. Chegamos a ter um encontro com o Banco do Brasil, que também demonstrou interesse na ideia. Eles têm um programa de microcrédito, querem fazer algo, mas nada de concreto aconteceu até agora. Eles não fecharam questão em relação a isso. A gente continua a conversar, mas talvez eles estejam ocupados com outras coisas. 
"Não somos máquinas
de fazer dinheiro. Temos
outras dimensões, voltadas
para o coletivo"
ÉPOCA – Hoje, o senhor não está mais à frente do Grameen. O que aconteceu?
Yunus – Aposentei-me e saí do banco há dois anos. Continuo envolvido em outros negócios sociais que criei, em paralelo ao Grameen Bank. O Grameen e o microcrédito se tornaram muito populares. Todo mundo queria conhecer o assunto, fazer críticas, procurar respostas. Então, não tinha oportunidade de falar sobre os demais negócios sociais. Agora, posso me dedicar mais a eles.
ÉPOCA – Como o senhor vê a tentativa do governo de Bangladesh de estatizar o Grameen Bank?
Yunus – Eles estão tentando assumir o controle, mas os tomadores de empréstimos, que são os controladores do banco, com 95% do capital, resistem. Até o momento, o governo não teve sucesso em sua iniciativa, mas há muito apoio internacional para mantê-lo sob o controle dos tomadores de empréstimos.
ÉPOCA – Como o senhor recebe as acusações de que cometeu irregularidades na gestão do banco?
Yunus – É muito triste. O governo queria me tirar de lá e buscava pretextos para isso. Essas acusações não foram provadas por ninguém. Eles fizeram uma auditoria no meu Imposto de Renda, para buscar irregularidades. Não acharam nada. Paguei cada centavo que tinha de pagar. Depois, disseram que tirei dinheiro do Grameen para financiar outros negócios sociais. Em toda a minha vida, e ainda hoje, nunca tive uma única ação de uma companhia criada por mim, em Bangladesh ou em outro lugar. Criei muitas empresas, mas todas foram criadas para resolver problemas sociais.
ÉPOCA – Qual sua avaliação dos resultados obtidos pelo Grameen Bank em Bangladesh?
Yunus – O Grameen foi muito bem. Hoje, 37 anos depois de sua criação, ele se espalhou por todo o país. Temos 8,5 milhões de tomadores de empréstimos, 97% dos quais são mulheres. O banco empresta cerca de US$ 1,5 bilhão, e a inadimplência é de apenas 3%. Tentamos garantir também que as crianças das famílias dos tomadores de crédito frequentem a escola e não sejam analfabetas como seus pais – e fomos bem-sucedidos nisso. Elas concluíram o ensino básico, seguiram no ensino médio e algumas foram para a faculdade. Além do microcrédito, o Grameen oferece também empréstimos para a educação, para cobrir os custos do ensino superior e evitar o abandono de cursos por falta de recursos para pagar as mensalidades. A taxa de juro do microcrédito é de 20% ao ano; e a de empréstimos para educação, de 5%. O estudante só começa a pagar depois de se formar e conseguir um emprego. Hoje, há centenas de milhares de crianças que estão na escola e na faculdade com o apoio do Grameen. Elas se tornam médicos, engenheiros e seguem outras carreiras.

ÉPOCA – O senhor disse que hoje está envolvido com outros negócios sociais. Que negócios são esses?
Yunus – Em 1997, criamos uma companhia de telefone que levou o celular a 260 mil pessoas de baixa renda, em mais de 50 mil comunidades da zona rural. Temos também uma empresa de eletricidade, que já levou a energia solar a mais de 1 milhão de casas. Esses são negócios sociais autossustentáveis. O governo tentou criar obstáculos para o desenvolvimento dessas empresas, mas elas se desenvolveram bem e começaram a investir em novos negócios sociais. Temos ainda uma escola para formar enfermeiras e um hospital de olhos, além de uma empresa criada em parceria com a Danone, em 2006. Essa empresa, a Grameen Danone, produz iogurtes com muitos nutrientes que faltavam à dieta das crianças da zona rural de Bangladesh. Eles são vendidos no varejo por um preço acessível de US$ 0,14 o copo de 60 gramas. Segundo o presidente executivo da Danone, Emmanuel Faber, o desenvolvimento desse iogurte vendido a preços populares foi o maior desafio de inovação que a companhia já teve.
ÉPOCA – O que distingue esses negócios de um negócio tradicional ou de uma ONG?
Yunus – A principal diferença é que, num empreendimento social, os donos criam o negócio para resolver um problema. O lucro é um meio, não o fim. Os donos decidem, desde o princípio, que nunca receberão dividendos. Ele recebe um pró-labore, como em qualquer empresa. Mas é um negócio sem fins lucrativos, criado para resolver problemas sociais, como se fosse uma organização não governamental (ONG). A diferença é que os negócios sociais são autossustentáveis e têm o dinamismo e a eficiência dos negócios tradicionais. Os negócios convencionais são feitos para gerar lucro aos acionistas, não para resolver o problema de alguém.
ÉPOCA – Mas eles não resolvem problemas com seus produtos e serviços?
Yunus – Talvez sim, talvez não. Há certos produtos, como o tabaco, que não resolvem problema algum. Eles criam um problema.
ÉPOCA – Uma rede de fast-food não resolve um problema ao vender um sanduíche por um preço acessível?
Yunus – Se o produto causa males à saúde, ela cria e não resolve um problema. Um negócio social não quer prejudicar ninguém. Os negócios tradicionais têm o objetivo de maximizar o lucro. São voltados para o ganho individual, para o acúmulo individual de riqueza. Não somos máquinas de fazer dinheiro. Somos mais que isso. Temos outras dimensões. Há uma dimensão que não é voltada para nós mesmos, mas para os outros, para o coletivo – e os negócios tradicionais não atendem essa outra dimensão. O modelo atual do capitalismo não é suficiente para nos satisfazer como seres humanos, porque não contempla todas as nossas dimensões.




Texto distribuído por Rosete como uma contribuição ao debate.


A história do dr. Yunus e do Grameen Bank
por Badruddin Umar [*]

O Premio Nobel da Paz com que as potências imperialistas obsequiaram o dr. Muhammad Yunnis não lhe foi arrebatado pelo governo, nem este teria poder para fazê-lo. O governo do Bangladesh simplesmente removeu-o do cargo de director administrativo do Grameen Bank com base em razões estritamente legais. Isto foi feito de acordo com as regras do Banco de Bangladesh e as leis do país. O mérito desta acção foi apreciado pelo Tribunal Superior, ao qual Yunus recorreu contra a decisão do governo. O Tribunal Superior rejeitou a sua queixa, depois de ouvir ambas as partes. A decisão foi também foi confirmada pelo Supremo Tribunal.

Esta actuação do governo contra Yunus foi tomada com base nas irregularidades confirmadas por ele cometidas e é um assunto interno do Bangladesh. Sabemos que as potências imperialistas, particularmente o governo dos EUA e a facção Clinton, que manipularam a atribuição do Prêmio da Paz para Yunus, reagiram forte e amargamente a esta decisão do governo.

Desde há muito analisamos criticamente as atividades de Yunus e do Banco Grameen, pela simples razão de que ele tem apregoado feitos muito exagerados quanto ao banco e quanto a si próprio. Afirma ele ter inventado uma teoria segundo a qual a garantia de empréstimo seria um "direito natural" do ser humano. Afirma que ao conceder empréstimos aos pobres foi bem sucedido na mitigação da pobreza no Bangladesh e que em 2030 remeteria a pobreza para um museu como relíquia do passado. Ao fazer tal afirmação, obviamente ridícula, revelou-se como alguém que falhou miseravelmente em entender que a pobreza não é uma coisa, não é um artefato arqueológico, mas sim o resultado das relações existentes entre pessoas no decorrer da atividade produtiva e em outras actividades na sociedade.

Sem dúvida o Banco Grameen é um operador bem sucedido na concessão de pequenos empréstimos a agricultores pobres, tal como muitas ONGs, e estabeleceu-se com mais destaque nessa área do que os bancos comerciais tradicionais. Por este feito o Banco Grameen pode receber um prêmio internacional pelo seu êxito na gestão de pequenos empréstimos. Mas deve-se salientar que isso nada tem a ver com a paz. Além disso, não se tem conhecimento de que o próprio Yunus tenha protestado alguma vez contra qualquer tipo de repressão perpetrada contra o povo por agências governamentais e outras forças sociais predatórias. Não se tem conhecimento de que tenha alguma vez pronunciado uma palavra sequer contra intervenções militares, agressões e guerras predatórias imperialistas em países da Ásia, África e América Latina. Ele nunca desempenhou qualquer papel no alívio de tensões ou no estabelecimento da paz entre interesses e grupos em conflito no Bangladesh ou qualquer outro lugar. Nunca realmente fez nada pela paz. Ao contrário, sempre confraternizou com aqueles que fazem a guerra e perturbam a paz tanto no seu país quanto no estrangeiro. Apesar disso, ganhou o Prêmio Nobel da Paz concedido pelas cliques imperialistas a fim de promover a sua políticas e outros interesses no Bangladesh. Não é de surpreender portanto que subitamente, em 2006, lhe tenha sido atribuído o Prêmio Nobel — às vésperas do golpe militar de Janeiro de 2007.

Yunus administrou os assuntos do Banco Grameen como um autocrata e, como qualquer outro autocrata, não teve escrúpulos em cometer irregularidades. Não tinha de prestar contas a ninguém e fazia tudo de modo arrogante. Exercia a autoridade de nomear todos os funcionários do banco e até os diretores. A sua nomeação como director executivo do banco foi sempre basicamente um acto da sua própria iniciativa, e nesses assuntos o papel da Comissão de Directores era apenas nominal. Tomava todas as decisões principais passando por cima daquela comissão, da qual nem era membro. Se o relacionamento entre o Diretor Executivo e a Comissão de Diretores fosse examinado, descobrir-se-ia ser um acordo muito estranho. A Comissão sempre actuou como um corpo absolutamente servil ao director executivo.

Em todos os aspetos as regras do Banco Grameen eram extraordinárias e as concessões a ele garantidas pelo governo na condução de seus assuntos contradiziam todas as práticas bancárias do país. Contudo, estas questões administrativas, incluindo as regras de conduta dos negócios do Banco Grameen, não são o foco da nossa preocupação real e deixamos para a Comissão de Inquérito, que foi instituída pelo governo, investigar os assuntos do Banco. A nossa preocupação principal é a situação no terreno.

Não é possível detalhar aqui as consequências do negócio de pequenos empréstimos praticado pelo Banco Grameen. Mas uma coisa deve ficar clara. Não nos opomos a pequenos empréstimos ou micro-crédito, porque tais empréstimos respondem a uma necessidade desesperada da população pobre das zonas rurais, particularmente dos camponeses e artesãos que trabalham na produção. Prestamistas rurais existem desde há séculos, ao longo do período feudal e até aos dias de hoje. De forma fraudulenta e prejudicial, Yunus é glorificado como o 'banqueiro dos pobres' que os resgatou nas áreas rurais, em particular as mulheres, enquanto o fato é que os prestamistas rurais tradicionais foram os que historicamente efectuavam esta operação. Até as ONGs lançadas pelo então presidente do Banco Mundial Robert McNamara nos anos 70 concederam empréstimos aos pobres antes do estabelecimento do Banco Grameen.

As ONGs e o Banco Grameen foram iniciativas imperialistas criadas com a ajuda ativa e colaboração do governo, mas não para aliviar ou erradicar a pobreza. O seu principal objetivo era perpetuar a pobreza e desviar a atenção dos pobres das lutas políticas que visam mudanças nas relações de produção básicas, assim como nas relações sociais que criam e preservam as condições de pobreza. Não cabe aqui desenvolver este ponto, mas torna-se necessário mencionar que o maior alarde quanto ao Banco Grameen e a sua declarada missão de erradicar a pobreza é feito por reconhecidos inimigos dos trabalhadores pobres do mundo, inclusive o povo do Bangladesh. Estes publicitários ruidosos representam as forças que exploram os pobres por todo o mundo, atam os países pobres deles dependentes e não têm o menor escrúpulo em atacar maliciosamente os países que se atrevem a resistir a seu assédio. São estes os países que não hesitam em bombardear os pobres de outros países e cometem genocídios como fizeram recentemente no Iraque e fazem atualmente no Afeganistão, Paquistão e Líbia.

A reação destas forças, que incluem países imperialistas como os Estados Unidos, França, Inglaterra, Alemanha, outros países da Europa e alhures e seus serviçais em países como o Bangladesh, é uma indicação clara dos interesses aos quais serve o Dr. Yunus. É insano pensar que as potências imperialistas estejam a fazer um alarido com a remoção do director executivo do Banco Grameen por serem amigas dos pobres em qualquer país e que possam liderar um programa para erradicar ou mesmo aliviar a pobreza daqueles que estão sujeitos à pior espécie de exploração por parte das classes dominantes locais, governos e potências imperialistas.

Neste contexto, é interessante notar que os devedores ou tomadores de empréstimos do Banco Grameen, em nenhuma área do Bangladeh, tenham até agora efectuado qualquer manifestação em favor de Yuns e contra a decisão do governo de removê-lo do cargo de director executivo.

Recentemente, num folheto do Banco Grameen lia-se que cerca de três milhões de devedores haviam assinado uma declaração de protesto contra a remoção de Yunus. Mas manifestações e declarações de protesto são actos muito diferentes. É fácil conseguir uma assinatura de um devedor quando a mesma é solicitada por responsáveis locais do próprio Banco Grameen.

E mesmo assim, não há provas de que tal declaração tenha realmente sido assinada por 3 milhões de devedores. A questão pode ser uma mentira e uma propaganda fraudulenta de funcionários de uma parte do Banco Grameen leais a Yunus.

Apesar da falta de apoio a Yunus pelos devedores do Banco Grameen, de quem se diz serem os "verdadeiros donos" daquela instituição, é extraordinário ver o tipo de apoio internacional organizado em favor de Yunus. Louvam os feitos do Dr. Yunus de forma a proteger a sua posição no Banco Grameen. Sob a presidência de um antigo presidente da Irlanda, formou-se uma 'comissão de amigos do Grameen' na sua sede em Paris. A 30 de Março numa sessão de perguntas e respostas na Assembléia Nacional Francesa, o ministro de Negócios Estrangeiros francês Alain Juppe disse: "o modelo de micro-crédito do Banco Grameen foi unanimemente reconhecido como uma ferramenta de alívio da pobreza, 'magnificamente bem sucedida' e replicada por todo o mundo, ajudando especialmente ao fortalecimento da posição das mulheres nos países em desenvolvimento'' (Daily Star, 1/4/2011). Esta declaração do ministro francês não é exceção. Afirmações deste teor são regularmente publicadas por representantes imperialistas e seus serviçais no Bangladesh. Mas o fato é que, além das pessoas que emitem tais declarações, ninguém reconhece o modelo de micro-crédito do Grameen como 'magnificamente bem sucedido' na mitigação da pobreza do Bangladesh. E ninguém reconhece o papel do Banco Grameen como contribuindo para o fortalecimento da posição das mulheres no Bangladesh.

As mulheres do Bangladesh estão sujeitas aos mais variados tipos de exploração e repressão por todo o país, em particular nas áreas rurais. As mulheres pobres dessas áreas são as mais oprimidas da sociedade e são vitimas de exploradores rurais e opressores, incluindo os mullahs que frequentemente emitem fatwas contra elas. Não consta que o Dr. Yunus do Banco Grameen se tenha oposto de alguma forma a tais atrocidades.

Não é preciso grande conhecimento ou sabedoria para entender em teoria que a mitigação da pobreza e o fortalecimento da posição das mulheres nada têm a ver com empréstimos bancários, independentemente dos termos dos acordos de empréstimo. Mesmo uma pesquisa modesta da situação nas áreas rurais revela que não houve nenhum alivio perceptível da pobreza através do desembolso de créditos rurais do Banco Grameen ou de qualquer outra ONG, apesar de ser possível que existam casos excepcionais em que os devedores possam ter melhorado a sua situação financeira usando fazendo uma utilização sagaz de tais empréstimos.

Não é necessária qualquer discussão elaborada sobre o 'feito' de Yunus para evidenciar que a sua principal realização foi a gestão das operações de empréstimos do Banco Grameen.
O seu negócio expandiu-se a vastas áreas do Bangladesh, o número de tomadores de empréstimo do Banco atingiu, de acordo com o seu próprio relatório, mais de oito milhões, e, através de um mecanismo de controle especial, a sua taxa de cumprimento é de 98%! Este êxito não teria sido possível sem uma contribuição financeira massiva do estrangeiro e sem as concessões e privilégios especiais garantidos pelo governo a este Banco, que não são igualmente disponibilizados aos outros bancos comerciais.

A função do negócio bancário do Grameen não é diferente dos pequenos serviços de crédito tradicionais que operam há séculos e são praticados por prestamistas rurais conhecidos como mohajons. Em linhas gerais, estes serviços ajudam a pequena produção de agricultores e artesãos e de todo o tipo de atividades econômicas em pequena escala. Assim, a implacável propaganda praticada pelos círculos imperialistas e seus serviçais no Bangladesh nada tem a ver com o trabalho real e os 'feitos' do Banco Grameen, nem com as afirmações de seu famoso diretor-executivo dr. Yunus relativamente aos oito milhões de devedores serem proprietários do banco e receberem dividendos com regularidade. Essa afirmação é completamente falsa e é fraudulenta. Qualquer investigação no terreno revela que nenhum devedor do Banco possui documento de controle acionário, nem tem qualquer prova ou relata ter recebido qualquer dividendo. Mas a incansável e estereotipada propaganda imperialista continua, e os meios de comunicação internacionais, seja em formato eletrônico ou impresso, transmitem uma vasta propaganda na qual muitas pessoas bem intencionadas acreditam.

O Banco do Bangladesh e o governo do Bangladesh removeram Yunus do posto de diretor-executivo. Dizem os imperialistas que sem ele o Banco Grameen parará de funcionar como um 'mitigador de pobreza' e perderá o seu caráter. Isso é uma falsidade e uma propaganda motivada, porque, como se disse amtes, tal caráter não existe. O que realmente poderá acontecer após o seu afastamento é uma série de reformas nas práticas operacionais do Banco Grameen que trarão algum alívio aos tomadores dos empréstimos e reduzirão o lucro do banco. Poderá também reduzir a entrada de capital estrangeiro no banco e enfrquecer a posição do dr. Yunus como um agente das corporações multinacinais que promovem o seu 'negócio social'.

Através da propaganda massiva que construiu a imagem de Dr. Yunus, os imperialistas tentaram elevá-lo à posição de um semideus, um redentor dos pobres e dos oprimidos. Tentaram retratar as suas atividades como uma panacéia para a pobreza e um meio de fortalecer as mulheres. Há um objetivo duplo nesta construção da imagem de Yunus. O primeiro é usá-lo para criar oportunidades de investimento na exploração de excedentes produzidos pela população rural pobre, e o segundo, mais importante, é usá-lo para fins políticos. Isso se tornou óbvio quando ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006, nas vésperas de um golpe militar no Bangladesh que teve a mão dos Estados Unidos e de europeus. Subsequentemente, Yunus tentou usurpar o poder político, aproveitando-se da situação então existente ao tentar organizar o seu próprio partido político. A sua tentativa falhou completamente, devido à sua total incapacidade pessoal de compreender o processo político e ponderar cada passo no processo de construção de um partido político. Consequentemente, demonstrou-se um fracasso político. Mas os imperialistas não perderam a esperança de poder usá-lo no jogo político que talvez tenham de jogar em tempos de crise. Foi por essa razão que o governo norueguês, depois acusá-lo de desonestidade financeira recuou nessa posição a fim de salvaguardar a sua imagem e isentá-lo das acusações que eles próprios haviam feito.

A consternação nos círculos capitalistas após a remoção de Yunus da posição de diretor-executivo do banco, e o alinhamento das ONGs e dos cavalheiros da sociedade civil do Bangladesh por trás dele, revela completamente o verdadeiro caráter de Yunus. Expõe também as caras de pessoas e instituições neste país que actuam nos interesses do imperialismo como seus serviçais. E demonstra claramente que Yunus, o tão publicitado "banqueiro dos pobres", não representa realmente os interesses dos mais pobres e oprimidos neste país, mas sim os interesses dos exploradores e opressores nacionais e estrangeiros. Na conspiração dos imperialistas, será difícil para eles utilizarem o dr. Yunus, com a sua "brilhante" imagem anti-povo e anti-pobre, como seu instrumento político em qualquer futura crise política.



Comentários da Vera



Esclarecimentos - A existência de três  canais de comunicação (chat whatsapp, googlegroup e blog) se justifica pelo caráter de cada um desses canais, um de comunicação rápida, outro por permitir armazenamento de arquivos, outro por comportar fotos. Quem quiser aderir ao googlegroup (mensagens por email), favor entrar em contato com Luciana. Quem quiser entrar no grupo Livros e Raquetes, entre em contato com Marilena. E o acesso ao blog Sociedade Literária Livros e Raquetes www.livroseraquetes.blogspot.com é livre, estando todas convidadas a visitá-lo, deixar postagens e tecer comentários.

Apresentação do livro - Teresa Lírio fez excelente trabalho motivacional e de preparação ao debate, fornecendo, através dos canais citados acima, farto material jornalístico e iconográfico sobre Bangladesh, o autor, contexto atual e dados estatísticos.

Debate - Houve consenso entre o grupo de que a indicação desse  título, feita por Thereza Matos, foi das mais felizes, e derrubou ceticismo de muitas de nós quanto à validade de discutirmos um livro de caráter técnico. Ao final, constatou-se que o relato não se restringe a um caso de economia, mas envolve relatos de profundo humanismo, solidariedade e compaixão que comoveram a todas. A maioria se surpreendeu com a realidade apresentada e se envolveu no debate, trazendo contribuições pessoais e pesquisas paralelas, às vezes um necessário contraditório. Lília relatou a existência de programa social similar aqui no DF e forneceu o endereço eletrônico da organização para quem queira conhecê-lo: www.programaprovidencia.org.br

O que é literatura - Ainda durante o período de leitura, houve questionamentos se o livro indicado se classificaria como literatura. Como subsidio, e sem pretensão de esgotar o assunto, Vera trouxe o seguinte: Literatura é o conjunto da produção intelectual da humanidade EM FORMA DE ESCRITA. Nossos ancestrais das cavernas produziram conhecimento e o transmitiram às gerações seguintes,  utilizando-se de sinais diversos, fumaça, pinturas rupestres, gestos, sons extraídos de instrumentos rudimentares e da voz. Mais tarde, desenvolveu-se a linguagem e a comunicação se fez também através de narrativas orais. Só foi, porém, com o advento da escrita (registros pictográficos como os hieróglifos, ideogramas orientais, alfabetos), que se pode falar em literatura. E veio, posteriormente, a classificação dos escritos em gêneros literários, primeiro conforme definidos na Antiguidade Clássica, de que falamos na primeira reunião deste grupo, e hoje expandidos ad infinitum pelo advento de novas tecnologias e novos conteúdos. O nosso livro em debate, O BANQUEIRO DOS POBRES, se classificaria como uma narrativa não ficcional de caráter híbrido, às vezes ensaio, às vezes memória.

domingo, 25 de agosto de 2013

NOTÍCIAS DE BANGLADESH


Queridas amigas leitoras,

Vejam onde fica Bangladesh, a capital Dhaka e o distrito de Chitatong, onde foi construída a Universidade. Os campos dos refugiados ficam na fronteira com Myanmar (Burna), na região de Cox’s Bazar.






Para dar uma ideia do cenário político de Bangladesh nos últimos dois meses, trago notícias com fotos publicadas nos jornais The Guardian e Al Jazeera. Podem representar uma visão parcial dos fatos, mas, espero que despertem o interesse de vocês para conhecer melhor o que se passa no pais de Muhammad Yunus.
Desde fevereiro, os líderes do partido Islamita estão sendo condenados à morte, acusados de responsabilidade em crimes cometidos na Guerra da Independência(1971).






Vemos nessas fotos a população pedindo a condenação e comemorando as sentenças...




15/07 - Ghulam Azam, de 90 anos, líder espiritual do maior partido islamita de Bangladesh, foi condenado a 90 anos de prisão, ou seja, até a sua morte, pelo Tribunal Internacional de Crimes (criado em 2010). Ele foi acusado de ter apoiado a matança e a tortura de Bengalis, durante a Guerra da Independência.

16/07 – Milhares de pessoas do partido Islamita protestaram contra a condenação de Ghulam.


17/07 - Ali Ahsan Mohamad Mujahid, de 65 anos, secretario-geral do partido Jammat e-Islami, e exministro, um dos condenados a morte.


1/08 - A justiça de Bangladesh declarou ilegal o registro do Partido Islamita, o que o impede de participar das próximas eleições com a justificativa de que programa do partido seria incompatível com aconstituição laica de Bangladesh.

Os Islamitas dizem que é uma manobra do Governo da primeira ministra Sheikh Hasina para manter-se no poder. Após o anuncio da sentença, houve violenta manifestação nas ruas da capital e de outras cidades, com bloqueios de rua e ataques aveículos.


11/08 – Adilur Rahman Khan, ativista dos Direitos Humanos, foi preso pelas autoridades de Bangladesh acusado de fabricar informações sobre as atrocidades cometidas pelas forças de segurança do governo. Sua organização denunciou que desde janeiro, 184 pessoas já foram mortas.


20/08 – Além de seus 160.000.000 de habitantes, Bangladesh ainda enfrenta o problema dos refugiados que vem de Myanmar – Cerca de 300000 Muslim Rohingya, perseguidos em Burna vivem em condiçoes desumanas nos campos de refugiados em
Bangladesh. Tristeza, fome e violência. 






sexta-feira, 16 de agosto de 2013

"O ARROZ DE PALMA"- APRESENTADO POR LILIA


O ARROZ DE PALMA


Local: Casa da Ana






Sobre o Autor:
Dramaturgo, roteirista cinematográfico, poeta e ex-diplomata, Francisco José Alonso Vellozo Azevedo nasceu no Rio de Janeiro em 1951. Começou a se dedicar à literatura em 1967, quando venceu concurso promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Além de livros e peças de teatro encenadas no Brasil e no exterior, Francisco Azevedo já escreveu para mais de 250 produções, incluindo roteiros de longa e curta-metragem, documentários e multimídias premiados e comerciais de televisão
Entrevistas:
Grupos Editorial Record: Entrevista - O arroz de Palma
Francisco Azevedo narra em O arroz de Palma, seu primeiro romance, um século da saga de uma família portuguesa imigrante. O tema da travessia e adaptação é recorrente na literatura brasileira, mas ao investigar especificamente a chegada de portugueses, não o colono, mas o que vem para trabalhar, Azevedo investe numa temática inédita. "Este meu romance de estréia fala da saga de uma humilde família portuguesa que chegou ao Brasil cheia de sonhos e projetos e que, transplantada neste solo, aprofundou raízes, cresceu e deu frutos. Fala de minhas próprias raízes. Fala, portanto, de mim e dos meus", disse Azevedo. O romance é marcado por uma escrita lírica, delicada, em que os momentos de reflexão do narrador, um senhor de 88 anos que prepara um grande almoço para toda a família, são entremeados por recordações deste século de família no Brasil. Embora as mudanças sociais e culturais do país possam ser percebidas no romance, é dentro da família que o autor maneja as transformações para amplificá-las: "O livro fala de família. A transformação do país na imagem dos descendentes é a transformação da própria família. Considerada falida nos anos 1960 e condenada ao desaparecimento, a família situa-se, agora, neste início do século XXI, como a mais sólida das instituições. Surpreendente? Nem tanto." Por meio das memórias do narrador, o octagenário Antonio, Francisco Azevedo maneja com esmero os diálogos, marca registrada em suas aclamadas peças teatrais como Unha e carne e Coração na boca, entre outras. Antes de O arroz de Palma, Azevedo publicou dois livros de poesia e prosa poética, Contra os moinhos de vento, 1978, e A casa dos arcos, de 1984. Posteriormente o autor se dedicou aos roteiros cinematográficos, de ficção e documentários, e peças teatrais.
A imigração é um tema que vem ganhando espaço na literatura brasileira. Como entende essa recorrência recente? Seria a necessidade de olhar para trás, para as raízes? Qual foi o seu caso?
A recorrência não acontece por acaso. Nós, seres humanos — os artistas principalmente —, estamos sempre antenados. Na literatura ou nas outras artes, as tendências coletivas resultam, justamente, dessa sintonia que está no ar e que tem muito a ver com o momento e a vivência desta ou daquela geração. No que diz respeito ao tema da imigração, acredito, sim, nessa necessidade de olhar para trás, para as raízes. Hoje, quando tudo é questionado e se torna relativo, precisamos de pontos de referência, modelos que nos transmitam um mínimo de certeza. Ir às raízes, mais que olhar para trás, é olhar para o fundo, para o que não está na superfície. É olhar simbolicamente para o que nos alimenta. É, enfim, tentar entender o que se passa conosco com base também na experiência ancestral, tão rica e tão vasta. Fico alegremente surpreso com as gerações mais novas que se interessam cada vez mais pela ancestralidade. Querem saber nomes de antepassados, a ascendência, a origem do sobrenome, o sangue (se português, italiano, alemão, espanhol, holandês...). Na internet, já há sites que criam e desenvolvem gigantescas árvores genealógicas! E entendo isso como uma busca afetiva — o que se quer é a informação caseira sobre o parentesco e não a descoberta de possíveis origens nobres.
Em O arroz de Palma, escrevo sobre nossas raízes lusitanas. Não falo do colonizador, mas do imigrante. Da gente simples, honesta e trabalhadora que veio em busca de dias melhores em terras brasileiras. Sempre confundimos a figura do colonizador com a do imigrante. Talvez, por isto, haja tantas histórias, filmes e seriados sobre italianos, alemães, japoneses, árabes e outros povos que imigraram para cá e nada ou quase nada sobre portugueses. Este meu romance de estréia fala da saga de uma humilde família portuguesa que chegou ao Brasil cheia de sonhos e projetos e que, transplantada neste solo, aprofundou raízes, cresceu e deu frutos. Fala de minhas próprias raízes. Fala, portanto, de mim e dos meus.
A transformação do país, na imagem dos descendentes, é figura que sai do pano de fundo para ser tratado como quase um dos personagens. Quis abarcar essas mudanças sociais, políticas e culturais com o romance?
O livro fala de família. A transformação do país na imagem dos descendentes é a transformação da própria família. Considerada falida nos anos 1960 e condenada ao desaparecimento, a família situa-se, agora, neste início do século XXI, como a mais sólida das instituições. Surpreendente? Nem tanto. Embora sacudida por radicais transformações de comportamento, ao longo das últimas quatro décadas, a família tem sabido superar suas deficiências, passar por testes dificílimos e, com base em diálogo mais franco, obter um maior entendimento entre seus membros: a aceitação do sexo antes do casamento e da homossexualidade, a união entre pessoas de religiões, raças e níveis sociais diferentes, o melhor entendimento entre casais que se separam e a natural convivência entre filhos de casamentos diferentes são apenas alguns exemplos de como essa instituição tem sabido evoluir e responder a novos desafios. Embora ainda com resistências e intolerâncias aqui e ali, e apesar de aparentes sinais de fragilidade, a família apresenta-se hoje como a instituição mais credenciada para reger de forma responsável as mudanças que a sociedade vem exigindo. Em O arroz de Palma estas mudanças estão presentes, é claro. E Antonio, o narrador da história, é naturalmente envolvido por elas.  O romance pretende mostrar que, apesar de todos os seus erros e tropeços cotidianos, a família busca se aprimorar. Ao se empenhar pelo acerto, essa milenar instituição parece querer provar que nós, seres humanos, pelo próprio instinto de sobrevivência, estamos fadados ao entendimento. Por isso, simbolicamente, o livro também se refere a esta nossa atribulada família planetária e a ela é dedicado: "Aos que já partiram, aos que aqui estamos e aos que ainda chegarão. Família somos todos."
O livro começa no “presente”, mas rapidamente o narrador recua para um século atrás e vem contando a história dessa família quase linearmente, mas em pequenas historietas, fragmentos. Por que escolher contar deste modo, ao mesmo tempo clássico e moderno?
A história de O arroz de Palma começa em 11 de julho de 1908 e termina exatamente em 11 de julho de 2008, quando Antonio, o narrador, já está com 88 anos e prepara um grande almoço em família. Acontece que o enredo ocorre ao personagem em forma de lembranças isoladas e em um tempo qualquer mais adiante, quando (não quero aqui revelar a razão) ele compreende o “mistério da terreníssima trindade” e se dá conta de que é passado, presente e futuro: três pessoas reunidas numa só. Neste momento principal, em que a toda a história de O arroz de Palma lhe vem à mente feito cinema, apenas o leitor lhe faz companhia. Os fatos, mesmo os mais remotos, estão tão vivos em sua memória, que são narrados no "presente colorido do indicativo". O modo de contar, ao mesmo tempo clássico e moderno, veio naturalmente, uma vez que, a meu ver, era o que melhor convinha à narrativa, que contém diálogos que vão do início do século passado aos dias de hoje, com conversas virtuais tecladas no msn. Mesmo em se tratando de um romance, há também uma forte influência de minha linguagem poética neste modo de contar. Acredito que a poesia esteja presente em quase todo o livro.
O milagroso arroz de Palma é o fio condutor de um século de trama. Mas, esquecendo a parte fantástica, o romance se debruça sobre vidas normais, sem grandes aventuras ou reviravoltas. Essa literatura do ínfimo, da delicadeza, é a que te agrada?
Sem dúvida. Mas não se espante se eu disser que essa "literatura do ínfimo e da delicadeza" tanto pode estar na poesia de Manoel de Barros, "que pensa renovar o homem usando borboletas",  como nos contos de Sérgio Sant’Anna. Em O arroz de Palma, eu me debruço sobre vidas normais. São problemas comuns de uma família comum. O próprio arroz, que serve de fio condutor, é mais simbólico que milagroso. A história começa, em Viana do Castelo, Norte de Portugal, no casamento de José Custódio e Maria Romana. Terminada a cerimônia, o arroz que desaba sobre os noivos é torrencial, chuva branca que não pára. O cortejo segue em festa pelo vilarejo, mas a romântica Palma permanece ali, feliz com todo aquele arroz espalhado pelo adro da igreja. Muito pobre, decide com entusiasmo que aquele é o seu presente de casamento para o irmão e a cunhada. No cartão, escreve: "Este arroz — plantado na terra, caído do céu como o maná do deserto e colhido da pedra — é símbolo de fertilidade e eterno amor. Esta é a minha benção. Palma". Infelizmente, o arroz, dado com tanto amor, resulta na primeira briga do casal. A partir daí, todos os conflitos, os dramas e as alegrias da família giram em torno do arroz.
Esse é seu primeiro romance e no tratamento com a língua percebemos um esmero literário bem diferente do que o normalmente utilizado em peças de teatro ou roteiros, seus trabalhos anteriores. O arroz de Palma, por isso, já nasceu como livro ou pensou em utilizar como outra forma artística?
O arroz de Palma nasceu como idéia para uma peça de teatro. Mas, com o desenvolver da trama, percebi que a história tinha fôlego. O romance, é lógico, me permitiu dar asas à imaginação e contar a saga dessa família sem estar preso às limitações naturais de uma produção teatral.
Minha formação é literária e poética. Em meus roteiros e, principalmente, em minhas peças de teatro esta formação está presente, inclusive, no trato que dou aos diálogos. Posso citar vários exemplos: Unha e carne, com Denise Del Vecchio e Lilia Cabral, continha falas reflexivas que me permitiam usar naturalmente a linguagem poética; Casa de Anais Nin, com Dora Pellegrino e depois com Lucélia Santos, é um texto essencialmente poético e a peça foi selecionada pela revista Bravo! como uma das melhores em cartaz em São Paulo. Coração na boca, encenada no Brasil e no exterior e cujos direitos para cinema foram adquiridos recentemente pela Total Filmes, também é exemplo dessa influência poética e literária em meu texto de teatro. Fui homenageado e convidado pela Yale University, como conferencista, para falar sobre a peça, traduzida para o inglês com o título Three of Hearts.
Crítica 1
É uma criativa história de amor. É leitura para quem gosta de refletir e buscar lições sobre os fatos que acontecem na vida familiar. Se o autor fosse rotular o livro empregaria na ficha as palavras da primeira linha da página 337: romance literalmente água com açúcar.
Para alguns isso é ofensa, para outros, elogio. A história em algumas passagens me comoveu. Não cheguei às lágrimas, mas percebi que se os fatos não foram verídicos, foram muito bem narrados e convincentes, eu diria que merecedores de um romance como este que foi escrito por Francisco Azevedo.
Toda a história se desenvolve nas lembranças do narrador enquanto prepara um almoço domingueiro para a família. Por isso mesmo emprega, principalmente no início, metáforas criativas como “família é um prato que emociona”; “temperos exóticos alteram o sabor do parentesco, mas se misturados com delicadeza tornam a família mais colorida interessante e saborosa”; “não existe família à Oswaldo Aranha, Família à Rossini ou Família ao Molho Pardo em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é à Moda da Casa”. Conforme a narrativa se desenvolve o autor relaxa a guarda e em vez de metáforas criativas abusa de clichês, lugares comuns e ditos populares ao ponto de em uma única página (106) cometer “chutar o balde”; “dou tratos à bola”; “mentira deslavada”; “Quem conta um conto aumenta um ponto”. É perdoado por ser o linguajar que se encaixa no perfil do narrador.
Crítica 2
Primeiro romance a tratar da imigração portuguesa para o Brasil no século XX, O ARROZ DE PALMA narra a saga de uma família em busca de um futuro melhor, superando diversas dificuldades. Nos cem anos em que acompanhamos suas vidas, irmãos brigam e fazem as pazes. Uns casam e são felizes, outros se separam. Os filhos ora preocupam, ora dão satisfação. Tudo sempre acompanhado pelo arroz jogado no casamento dos patriarcas, José Custódio e Maria Romana, em 1908. Grão que serve de fio condutor desta história, como migalhas de pão jogadas no labirinto da memória.
Estréia na literatura do roteirista e dramaturgo Francisco Azevedo - autor das peças Unha e carne e A casa de Anais Nin, sucessos de público e crítica -, o livro começa com Antônio, filho de José e Maria, aos 88 anos, preparando o almoço que será servido à família, finalmente reunida após muito tempo. Enquanto combina os ingredientes, vão se misturando em sua mente as histórias que Tia Palma, irmã de seu pai, lhe contava. Mitologias familiares, que gravitam em torno desse arroz e também em torno das dificuldades em se largar uma terra amada por um futuro duvidoso.
Tudo começa no casamento dos pais, em Viana do Castelo, norte de Portugal, seguindo a tradição, o casal saiu da igreja sob uma chuva de arroz. Recolhido por Palma, esses 12 quilos de arroz foram acompanhando a família, sendo fundamentais em vários momentos. Como quando, para tratar da infertilidade da cunhada e do irmão, Palma dá a ele um laxante e depois prepara uma canja com esse arroz. O mesmo que ela presenteia ao sobrinho Antônio no dia de seu casamento. Uma união selada num almoço em que a família serviu esse arroz com bacalhau. O ARROZ DE PALMA é um romance delicado, que emociona e comove. Com um certo ar de Isabel Allende, a trama tem um forte componente sentimental. Uma nostalgia por um tempo em que a família abrigava as pessoas. Um ideal que, portugueses ou não, todos herdamos.
Este livro é contado por um 'velho' de 88 anos...que está preparando um almoço de família...reunindo toda a família: mulher, filhos, netos, irmãos e seus descendentes...
Antônio é o filho mais velho do casal português José Custódio e Maria Romana que vem para o Brasil juntamente com a irmã de José Custódio, 'tia' Palma logo após o casamento, por aqui eles vão morar em uma fazenda no interior do Rio de Janeiro onde trabalham com o casal Sr. Avelino e D. Maria Celeste...a amizade entre os casais é muito forte...os primeiros filhos dos casais Antîonio e Isabel, nascem no mesmo ano e crescem juntos...depois se casam...e têm filhos...e a história é narrada de uma forma deliciosa...é um poema a forma como Francisco Azevedo narra a 'saga' de uma família...muito emocionante e cativante...
OBSERVAÇÕES DE VERA GUIMARÃES:
Mais um encontro de sucesso, desta vez para discutirmos O ARROZ DE PALMA, de Francisco Azevedo.
O livro foi apresentado por Lília e o debate teve a participação de todas.
Como se trata de um livro de memórias, levantei dados sobre o assunto. Aguardo contribuições de quem se lembrar de algo mais.
    
  MEMORIALISMO/ MEMORIALÍSTICA
 “A vida não é relatável.” Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.
“Memórias são a escrita da alma.” ?
“A memória é uma ilha de edição”, Wally Salomão, poeta e compositor.
MEMORIALISMO
Conceito que abarca as características dos relatos em 1ª. pessoa, que se manifestam em diversos gêneros literários (autobiografia, diário, correspondência, literatura de viagens, poesia lírica) e cujas marcas principais são a subjetividade e o confessionalismo, real ou fictício.
A escrita em forma de memórias pode ser um recurso narrativo adotado por um autor para dar forma literária a uma obra fictícia. O memorialismo fictício supõe a elaboração de uma obra que, de um modo ou de outro, simule a produção de um livro de memórias.
DIFERENÇA ENTRE MEMÓRIA E AUTOBRIOGRAFIA
A narrativa de memórias às vezes é confundida com biografia ou autobiografia, não obstante a diferença entre os dois gêneros: enquanto a biografia se interessa por um personagem relevante do ponto de vista histórico, literário, científico etc., e narra fatos da sua vida, a memória pode ser interessante mesmo quando se refira a personagens sem qualquer relevância pessoal, residindo seu interesse no testemunho de uma época, de um ambiente social, de um período histórico, de costumes familiares, linguísticos etc.  

MEMORIALISTAS NA LITERATURA BRASILEIRA – Trechos extraídos de De Taunay a Nava: grandes memorialistas da literatura brasileira, do Prof. Dr. Paulo BUNGART NETO (UFGD)
“A produção memorialística é fenômeno relativamente recente na literatura brasileira. Se as crônicas e os registros históricos se iniciam já em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, e a poesia e o teatro brasileiros, com os poemas e autos de José de Anchieta, as primeiras obras do gênero memorialístico, entre nós, surgem apenas durante o Romantismo, no final do século XIX.” (...)
“O memorialismo brasileiro já deixou registrados o pavor e as atrocidades de uma guerra absurda (as Memórias, de Visconde de Taunay, sobre a Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança), o ambiente inescrupulosamente pecaminoso dos internatos masculinos (tema das obras Balão Cativo e Chão de Ferro, de Pedro Nava, e do romance autobiográfico O Ateneu, de Raul Pompéia). Por falar em romance, simultaneamente ao início da prática regular de escrita memorialista por parte dos ficcionistas românticos, é através de um romance de “memórias” (as Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicadas em 1881) que a escola realista se impõe em nossas terras. Quase trinta anos depois, Machado ainda traz à lume o Memorial de Aires(1908), escrito na forma de diário pelo diplomata aposentado, o Conselheiro Aires. Além disso, é preciso evocar as lúdicas Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.” (...)
O Romantismo é, portanto, a primeira escola literária brasileira a produzir (bons e, às vezes, ótimos) textos de cunho memorialístico, como as obras Como e por que sou romancista, de José de Alencar; Minha vida: da infância à mocidade e o sugestivo Quando eu era vivo, de José Joaquim Medeiros e Albuquerque; e, sobretudo, as Memórias do Visconde de Taunay, sobre as quais me deterei um pouco mais adiante.
Antes do boom do memorialismo no Modernismo brasileiro, (...)é preciso evocar a obra de Lima Barreto, sobretudo o romance Recordações do escrivão Isaías Caminha e sua obra memorialística O cemitério dos vivos, ambas as obras repletas de confissões de traumas, dependências químicas e dificuldades de inserção social e profissional. Rotuladas como “pré-modernistas”, as obras de Lima Barreto antecipam muitas das técnicas modernistas, abrindo caminho para a consolidação de uma tradição confessional que marcou grande parte da literatura brasileira do século XX.

“Memorialismo modernista no Brasil: antes e depois de Proust
O memorialismo modernista brasileiro sofreu obviamente um grande impacto no início do século XX devido à publicação da obra A la Recherche du Temps Perdu, de Marcel Proust, nas décadas de 1920 e 1930. Lida em geral no original em francês (pois só foi publicada em edição brasileira a partir do final da década de 1940, pela Editora Globo, de Porto Alegre), a história de Marcel, a da lembrança involuntária a partir do bolinho molhado no chá, repercutiu, direta ou indiretamente, com maior ou menor intensidade, nas obras memorialísticas da literatura brasileira, que surgiram em profusão. (...) Alguns exemplos, para ficar apenas dentre os autores mais canônicos:Itinerário de Pásargada, de Manuel Bandeira; Um Homem sem Profissão: Sob as Ordens de Mamãe, de Oswald de Andrade; Meus Verdes Anos, de José Lins do Rego; Solo de Clarineta, de Erico Veríssimo; A Idade do Serrote, de Murilo Mendes; Viagem no Tempo e no Espaço, de Cassiano Ricardo; Infância e Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos; A Menina do Sobrado e Explorações no Tempo, de Cyro dos Anjos; e Pobre Memórias de um Homem, de Dyonelio Machado. Isso apenas em termos de grandes poetas e ficcionistas que deixaram memória ou autobiografia em prosa. Sem falar nos casos de memorialismo poético (como nas obrasBoitempo, de Carlos Drummond de Andrade, e Memórias Inventadas, de Manoel de Barros), de intelectuais que, não se notabilizando como ficcionistas, escreveram obras essenciais no gênero, como o jornalista Fernando Gabeira (O que é isso, companheiro?) e os críticos literários Augusto Meyer (Segredos da Infância e No Tempo da Flor), Gilberto Amado (História da Minha Infância); Agripino Grieco (Memórias, em vários volumes), Tristão de Athayde (Memórias Improvisadas), Carlos Dantes de Moraes (Um solitário à Procura da Vida – Fragmento de Autobiografia) e Silviano Santiago (O Falso Mentiroso) e do caso mais paradigmático e assombroso da memorialística brasileira, a obra, em sete volumes (publicada entre o início das décadas de 1970 e de 1980), de Pedro Nava, médico reumatologista, poeta bissexto e frequentador assíduo das rodas literárias belo-horizontinas na companhia de Drummond, Emílio Moura, Rodrigo de Melo e Franco, etc. “ Os livros de memória de Pedro Nava são: Baú de Ossos, 1972; Balão Cativo, 1973; Chão-de-Ferro, 1976; Beira-Mar, 1978; Galo-das-Trevas, 1981;O Círio Perfeito, 1983; e Cera das almas, póstumo, incompleto, 2006.
MEMORIALISMO NO CINEMA

Verao de 42, de Robert Mulligan, 1971, http://m.imdb.com/title/tt0067803/

Stand by Me, 1986, de Rob Reiner, http://m.imdb.com/title/tt0092005/

Esperança e Glória, 1987, de John Boorman, http://m.imdb.com/title/tt0093209/ 

Tempo da Inocência, 1999, Hugh Hudson, http://m.cineclick.com.br/tempo-da-inocencia

Quadrilogia de Marcel Pagnol: Jean de Florette, Manon des Sources, La Gloire de mon Père, Le Château de ma Mère, http://m.imdb.com/name/nm0656528/


CONSULTAS




Memórias/Saudosismo na MPB

> MEUS TEMPOS DE CRIANÇA, Ataulfo Alves, http://m.vagalume.com.br/ataulfo-alves/meus-tempos-de-criaanca.html

> TECOTECO, Gal Costa

> DOZE ANOS, Chico Buarque

> LAMPIÃO DE GAS, Zica Bergami

> TRILHOS URBANOS, Caetano Veloso,  http://m.letras.mus.br/caetano-veloso/44784/

> CORDAO DA SAIDEIRA, Edu Lobo, http://m.letras.mus.br/edu-lobo/436785/

Alguém se lembra de outras?

sábado, 1 de junho de 2013

"QUARTO"- REUNIÃO






Encontro realizado em 20 de junho de 2013.
Presenças : Lara (apresentadora), Ana Lima, Conceição, Karla, Lília, Luciana, Luzimar, Marilda, Marilena, Marília, Monica, Regina, Rosete, Sylvia, Teresa Lírio, Terezinha, Thereza Matos, Vera e Zezé.
Aguardamos o envio de material da Lara.

Leitoras