quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata



LOCAL: ESPAÇO DO TÊNIS
APRESENTADORA: VERA CORREA

A SOCIEDADE LITERÁRIA E A TORTA DE CASCA DE BATATA, de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, Inglaterra, Ed. Rocco, 2008, subgênero romance epistolar.
Gêneros literários, segundo a Antiguidade Clássica, principalmente Platão e Aristóteles:
1.    Lírico, geralmente em versos, com elementos de métrica, rima, sonoridade, aliterações.
2.    Dramático, para encenação, cujos principais exemplos são as famosas tragédias gregas e as comédias de costumes. Hoje, a dramaturgia se faz com as telenovelas, as sitcoms, as peças de teatro, mamulengos, stand up comedies, o cinema...   
3.    Narrativo, geralmente em prosa, que é o que nos interessa aqui. Os subgêneros narrativos são os romances, novelas, crônicas, ensaios etc. Os romances, por sua vez, se subdividem em infinidade de categorias: histórico, policial, erótico, bíblico, água-com-açúcar, terror etc etc.

O romance epistolar se desenrola com uma técnica narrativa que se vale de cartas, bilhetes, telegramas, recortes de jornais, entradas em diários e agendas, ingressos de óperas e teatros, transcrição de sentenças e boletins de ocorrência, bilhetes de viagem, enfim, de qualquer material escrito que concorra para a contextualização dos fatos narrados.
As cartas são um ótimo veículo para um roman à clé, aquele em que destinatário e/ou remetente usam outra identidade, por motivo de anonimato, segurança. O romance epistolar teve seu apogeu no séc. XVIII.
 “Roman à clef, ou roman à clé ([ro.mã a klè], expressão francesa cuja tradução aproximada é "romance com chave"), designa a forma narrativa na qual o autor trata de pessoas reais por meio de personagens fictícios. Em alguns casos, o autor recorre a anagramas ou pseudônimos para referir-se a sujeitos reais; noutros, vale-se de uma tabela que permite converter números ou iniciais em nomes (verdadeiros) correspondentes.
As razões que levam um autor a utilizar o roman à clef são:
1.    o caráter controverso do tema narrado;
2.    a necessidade de compartilhar, com algum nível de discrição, informações privilegiadas sobre bastidores, vida íntima ou escândalos de outrem, escapando de acusações de violação de privacidade ou difamação (razão que justifica a utilização de uma espécie de criptografia de identidades);
3.    o desejo de dar a certa história o desfecho que gostaria que ela tivesse tido;
4.    a oportunidade de retratar eventos ou experiências autobiográficas sem se expor.”
 “Pois que toda literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível (...)”, de Novas Cartas Portuguesas.
Outros escritos e romances epistolares:
. Na literatura clássica greco-romana: Cícero (106 a.C. a 43 a.C.), Horácio (65 a.C a 8), Ovídio 43 a.C. a 18) e Plínio (61 a 114) têm obras marcantes em forma de cartas. Consultem a bibliografia deles.
. Novo Testamento: 21 dos 27 livros são em forma de cartas ou epístolas, que propiciaram a consolidação do Cristianismo e sua expansão.
. Aprendendo a Viver, Cartas a Lucílio, de Sêneca, (4 a.c. a 65),  http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9neca , autor tão amado e citado por um personagem do nosso livro em estudo, o A Sociedade Literária etc .
. Petrarca (1304 a 1374) reuniu suas cartas em dois grandes volumes, a última das quais é autobiográfica e uma síntese de sua filosofia de vida.
. Cartas Persas, de Montesquieu, (1689 a 1755),   http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_de_Montesquieu, cartas enviadas por dois supostos turistas a parentes e amigos na Pérsia, em que comentam vida, costumes, política, poder da igreja, corrupção, ostentação e riqueza na Paris de então.
. Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, (1741 a 1803),    http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Choderlos_de_Laclos “ (...) que retrata as relações de um grupo de aristocratas através das cartas trocadas entre si, na época imediatamente anterior à Revolução Francesa - nobres ociosos e sem escrúpulos dedicam-se prazerosamente a destruir a reputação de seus pares. O enredo tem como foco o Visconde de Valmont e da Marquesa de Merteuil, que manipulam e humilham as restantes personagens através de intrigas e jogos de sedução.” Segundo o IMDb (Internet Movie Database), existem 11 versões desse livro para cinema.
 . Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, (1749-1832), http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Wolfgang_von_Goethe , marco inicial do Romantismo, considerado como uma obra-prima da literatura mundial, é uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico e em forma de cartas. Na época ocorreu na Europa uma onda de suicídios atribuída ao efeito do clima sombrio do livro.
. Cartas Chilenas, http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartas_Chilenas, de Tomaz Antônio Gonzaga (1744 a 1810), precioso registro dos costumes da época e da corrupção no Brasil-Colônia.
. Correspondência de Fradique Mendes, http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/correspondencia-fradique-mendes-analise-obra-eca-queiros-698944.shtml, de Eça de Queirós (1845 a 1900), em que o autor usa o heterônimo Fradique para materializar seu eu idealizado e suas ideias a respeito do Portugal de então. 
. Dracula, de Bram Stoker, (1847 a 1912),  http://pt.wikipedia.org/wiki/Bram_Stoker, romance gótico sobre o Conde Drácula, vilão morto-vivo da Transilvânia, que se tornou o típico representante do mito do vampiro, que por sua vez tem origem no fabulário húngaro do século XVIII. Em 1992, Francis Ford Coppola fez para cinema sua versão do livro, com elenco estelar: Anthony Hopkins, Gary Oldman, Wynona Rider, Keanu Reeves. http://www.imdb.com/title/tt0103874/
. Cartas de uma Imperatriz, de D. Leopoldina (1797/1826), divididas em Cartas Austríacas (1808/1817), Cartas da Travessia (1817) e Cartas Brasileiras (1817/1826), através das quais conhecemos a vida da arquiduquesa austríaca, pessoa curiosa intelectualmente e com fortes laços familiares, que se tornou a imperatriz do Brasil e teve vida miserável e fim trágico nas mãos do marido Pedro I.
. 84 Charing Cross Road, de Helene Hanff (1916-1997), de 1970, posteriormente transformado em peça teatral e filme (no Brasil, Nunca te Vi, Sempre te Amei), história romanceada da escritora americana que, tendo dificuldade para encontrar obras raras em seu país, passa a corresponder-se ao longo de vinte anos com um livreiro londrino chamado Frank Doel, da firma Marks & Co., uma espécie de sebo situado no endereço que dá título à obra.
. A Cor Púrpura, de Alice Walker , (1944...), http://pt.wikipedia.org/wiki/Alice_Walker. Uma mulher negra do sul dos EUA, quase analfabeta, escreve cartas a Deus e a sua irmã Nettie, já morta, das quais se extrai sua dura realidade de pobreza, opressão e desamor. O livro virou premiadíssimo filme de Steven Spielberg.
. Boquitas Pintadas, de Manuel Puig, (1932-1990), http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Puig , no qual cartas, descrição de fotos antigas, sentenças judiciais e reminiscências montam a história de desencontros amorosos, traições e maledicências.
. Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa,  http://pt.wikipedia.org/wiki/Novas_Cartas_Portuguesas , obra feminista e de resistência à ditadura salazarista.
. Correspondência entre Freud e Jung, início do séc. XX (informação levantada por Teresa Lírio).
. Precisamos Falar sobre o Kevin, de Lionel Shriver (1957...), carta que mãe, sob o impacto de massacre perpetrado por seu filho em uma escola, envia a destinatário desconhecido, cuja revelação, ao final, amarra toda a trama. (Obra lembrada por Thereza Matos)
Na extrema modernidade:
. Uma amiga escritora está gestando um livro de supostas cartas de personagens históricos. Li a carta-piloto e aguardo ansiosamente as demais.
. A publicitária Cris Guerra, que tem um blog de moda e estilo, agora também escreve cartas ao filho pequeno em http://cartasparafrancisco.wordpress.com




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