Grupo de tenistas amantes da leitura. Encontros mensais para profundas discussões sobre o livro e seu autor. Discussões rematadas com um saboroso lanche.
domingo, 17 de julho de 2016
Dois Irmãos - Apresentação de Vera Correa, Maria José e Andyara
1) Contribuição de Vera Correa:
DOIS IRMÃOS – Milton Hatoum
QUADRINHOS E LITERATURA
Dois eventos me chamaram atenção
para a versão quadrinizada do livro DOIS IRMĀOS. Primeiro, quando, na
preparação da lista de livros indicados, Andyara lincou a versão em quadrinhos,
que foi a primeira a aparecer na busca que fez pelo livro na internet; depois,
quando Leila encomendou seu volume à Amazon, e recebeu essa versão, sem que a
houvesse especificado.
Descobri então, um vasto universo, que pode receber
as denominações de ARTE SEQUENCIAL/NARRATIVA; FIGURADA/HISTÓRIA EM
QUADRINHOS/COMICS/MANGÁ/GIBI/BANDA DESENHADA/GRAPHIC NOVEL.
Para facilitar, vamos chamar
essas manifestações de HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - HQ -, embora haja diferenças
entre elas. E depois vamos nos concentrar na GRAPHIC NOVEL, onde se encaixa o
livro DOIS IRMĀOS, na versão dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, em cima do
texto de M Hatoum.
HQ é considerada a Nona Arte, depois do Cinema e da
Fotografia.
V. link abaixo.
HQ não é um gênero literário, é
um formato. V polêmica em link abaixo.
História das HQ remonta ao início do século XX. V. links
abaixo.
O formato HQ já é objeto de
estudos acadêmicos. A ECA-USP tem um núcleo de estudo de HQ e muitos estudiosos
do Brasil e do mundo produzem textos acadêmicos sobre o assunto. V link abaixo.
Enorme mercado, tanto em termos
de mão-de-obra quanto da produção de livros e revistas. Ainda gera eventos como
feiras, desfiles, competições. Os grandes expoentes são EUA, Japão e Brasil.
As HQ são publicadas por grandes
editoras específicas, como a Marvel, DC Comics, Conrad, Maurício de Souza, ou
por selos dentro de editoras, e ainda em edições independentes, através ou não
de financiamentos coletivos.
GRAPHIC NOVEL
O que nos interessa aqui. DOIS
IRMÃOS, dos gêmeos F Moon e G Bá, agraciado com o maior prêmio das HQ, o Will
Eisner Award, encaixa-se na classificação de GRAPHIC NOVEL.
Conceito: “A Graphic Novel ou, traduzindo para o português, o romance gráfico, é
uma história produzida em quadrinhos, estilo que por sua vez capta personagens
flagrados em atuações e atitudes preservadas por alguns momentos no que
habitualmente se define como quadros particulares dispostos sequencialmente.
Neles as falas são inseridas em balões de diálogo. Geralmente considera-se Graphic Novel uma história mais longa e
elaborada, semelhante às obras literárias compostas no gênero conhecido como
prosa. Embora os tradicionais gibis consumidos principalmente pelas crianças
sejam também insistentemente rotulados de histórias em quadrinhos, este formato
se caracteriza hoje por abrigar igualmente narrativas mais densas e complexas”.
http://www.infoescola.com/literatura/graphic-novel/
http://www.infoescola.com/literatura/graphic-novel/
Algumas das obras clássicas da literatura universal e
nacional já foram transpostas para o
formato graphic novel:
·
Ilíada, de Homero
·
Odisseia, de Homero
·
Divina Comédia, de D Alighieri.
·
Vários Shakespeare
·
Os Miseráveis, de V Hugo
·
Vários Machado de Assis
·
Guerra e Paz, de L Tolstoi
·
Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima
Barreto
O formato tem sido usado em
narrativas de cunho político: Joe Sacco (Gaza, Palestina, Sarajevo e Bósnia),
Art Spiegelman (Maus, nazismo) e Marjane Satrape (Persépolis).
Quadrinhos foram premiados em certames de literatura
(Pulitzer e outros), o que gerou enorme polêmica. V. link abaixo.
http://quadro-a-quadro.blog.br/por-que-quadrinho-e-a-nona-arte/
http://www.infoescola.com/literatura/graphic-novel/
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/historia-historia-quadrinhos.htm
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/História_em_quadrinhos_no_Brasil
http://www2.eca.usp.br/nonaarte/ojs/index.php/nonaarte/index
http://www.educacional.com.br/reportagens/gibis/brasil.asp
http://quadro-a-quadro.blog.br/por-que-quadrinho-e-a-nona-arte/
http://www.infoescola.com/literatura/graphic-novel/
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/historia-historia-quadrinhos.htm
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/História_em_quadrinhos_no_Brasil
http://www2.eca.usp.br/nonaarte/ojs/index.php/nonaarte/index
http://www.educacional.com.br/reportagens/gibis/brasil.asp
2) Contribuição de Andyara:
O AUTOR: MILTON HATOUM
Nasceu em 1952, em Manaus
(Amazonas), onde passou a infância e uma parte da juventude. Em 1967 mudou-se
para Brasília, onde estudou no Colégio de Aplicação da UnB. Morou durante a
década de 1970 em São Paulo, onde se diplomou em arquitetura na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP, trabalhou como jornalista cultural e foi
professor universitário de História da Arquitetura.
Autor de quatro romances premiados, sua obra foi traduzida em doze
línguas e publicada em catorze países. Foi professor de literatura francesa da
Universidade Federal do Amazonas (1984-1999) e professor visitante da
Universidade da Califórnia (Berkeley/1996). Escritor residente na Yale
University (New Haven/EUA), Stanford University e na Universidade da Califórnia
(Berkeley). Em 1989, seu primeiro romance Relato de Um Certo Oriente, publicado
pela editora Companhia das Letras, ganhou o prêmio Jabuti de melhor romance. Em
2000 publicou o romance Dois irmãos (prêmio Jabuti – 3º lugar na categoria
romance/ indicado para o prêmio IMPAC-DUBLIN), eleito o melhor romance
brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais Correio Braziliense
e O Estado de Minas. Desde 1998, mora em São Paulo, onde é colunista do Caderno
2 (O Estado de S. Paulo). Foi colunista dos extintos site Terra Magazine e da
Revista Entrelivros.
CONTEXTUALIZAÇÃO
O livro tem por cenários as
cidades de Manaus e seu entorno; São Paulo no Brasil; e uma aldeia no Líbano. O
contexto histórico é compreendido entre as décadas 1910 a 1964. Descreve a vida
na cidade de Manaus com a desordem de sua cultura e natureza, em detrimento a
modernidade desenfreada, notadamente, após o golpe militar de 1964, com a zona
franca, a vinda de novos imigrantes e homens de negócios. O leitor faz uma
verdadeira imersão no mundo amazônico: os nomes indígenas dos rios, os mitos
criados e repassados pelos ribeirinhos representados pelo boto, os costumes do
povo, pelas pescarias e venda de peixe. As temáticas regionais vão sendo
relacionadas num ambiente propício à disseminação da cultura já tão dizimada
pelo processo de colonização.
ESPAÇO
MANAUS: Via um outro mundo
naqueles recantos, a cidade que não vemos, ou não queremos ver. Um mundo escondido…
(HATOUM, 2000, p. 59.)
FÍSICO: Problematiza as
transformações ocorridas em Manaus, não somente retratando como também
denunciando a falta de cuidado do governo com o desenvolvimento desenfreado,
sem considerar as populações tradicionais, a destruição da fauna e flora.
RELIGIOSO: As demonstrações de fé e
muitas vezes de fanatismo religioso fica por conta de Zana, a patroa, e
Domingas, a empregada.
POLÍTICO E
IDEOLÓGICO: Nael foi a fronteira entre dois mundos: estrangeiros desterrados e os
autóctones com suas identidades “apagadas” .
CULTURAL: A cidade dos imigrantes –
libaneses, portugueses, franceses, alemães−, dos indígenas, dos brasileiros de
diferentes origens.
Ref.: Oliveira, M. R. B. de. Uma análise do espaço
romanesco em Dois Irmãos, de Milton Hatoum. Dissertação, UFRO, 2013.
COMUNIDADE LIBANESA NO BRASIL
Existem 10 milhões de libaneses e
descendentes no Brasil, contra 3,5 milhões que vivem no Líbano. Em 1880,
primeira grande leva de libaneses cristãos, fugindo do Império Otomano, Estado
de maioria muçulmana que dominava todo o Oriente Médio e era controlado pela etnia
turca. A imigração de libaneses para o Brasil foi incentivada, também, por D.
Pedro II, Imperador do Brasil, admirador da cultura árabe, quando em visita ao Líbano.
Como os libaneses chegavam com o passaporte otomano, eram chamados de
"turcos", denominação aplicada até hoje aos árabes e seus
descendentes em parte do Brasil.
3) Contribuição de Maria José:
PERSONAGENS
·
NAEL
– narrador da história, seu nome é revelado apenas na metade do livro. É filho
da índia Domingas, empregada da casa, com um dos gêmeos. De sua posição de
agregado, ao mesmo tempo secundária e privilegiada, transmite os acontecimentos
ao leitor.
·
OMAR
– um dos gêmeos. Por ter sido o segundo a nascer, é chamado pelo narrador de
Caçula. Sua relação muito estreita com a mãe sugere o incesto. Indisciplinado e
intempestivo é capaz de ações inesperadas e corajosas.
·
YAQUB
– o irmão gêmeo de Omar. Introvertido e dedicado aos estudos, revela-se na
juventude um grande conquistador. Parece sofrer com a preferência da mãe pelo
irmão.
·
ZANA
– mãe dos gêmeos e de Rânia. Mulher bela e de temperamento forte, é apaixonada
por Omar.
·
HALIM
– marido de Zana, apreciador dos prazeres da vida e nostálgico, mas também
forte e corajoso. O tempo parece não influenciar a intensidade do amor que
sente pela mulher.
·
RÂNIA
– irmã mais nova dos gêmeos decide não se casar e dedicar-se inteiramente ao
comércio.
·
DOMINGAS
– índia que Halim e Zana haviam tirado de um orfanato ainda criança, é
empregada da família e mãe de Nael.
FOCO NARRATIVO
CASA DEMOLIDA - O tema principal do romance é o drama familiar
demolindo as vidas e, por consequência, o lar. O enredo é centrado na história
de dois irmãos gêmeos -Yaqub e Omar - e suas relações com a mãe, o pai e a
irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e o filho dela (que,
mais tarde, se descobre ser o narrador), um menino cuja infância é moldada
justamente por esta condição: ser o filho da empregada.
AMOR INCESTUOSO - Apesar de não estar escrito com todas as letras,
deduz-se que o amor doentio da mãe (Zana) pelo filho mais novo (Omar) tem muito
de incesto: ela o quer só para si, ignorando, a partir de certo momento, a
relação com o próprio marido. Na mesma linha, classifica-se o amor de Rânia
pelos irmãos gêmeos. Mas não se pode esquecer que a relação sexual entre Rânia
e Nael também é um incesto, uma vez que ela pode ser a tia dele, já que se
desconfia que ele seja filho de um dos gêmeos.
VOCABULÁRIO
·
Manauara
– referente à Manaus (nascido em Manaus)
·
Cunhatã
- termo indígena para o diminutivo de mulher.
·
Arak
– bebida alcoólica de origem árabe, destilada da tâmara ou uva, aromatizada com
anis dentre outras especiarias. Parecida com licor e consumida após as
refeições.
·
Narguilé
– cachimbo de água utilizada para fumar.
·
Maná
– o livro bíblico de Êxodo o descreve como um alimento produzido
milagrosamente, sendo fornecido por Deus ao povo hebreu, liberado por Moisés,
durante sua estada no deserto rumo à terra prometida.
·
Gazais
– gênero de poesia amorosa árabe, cuja tradução é "conversando com as
mulheres".
·
Paxá –
denominação dada entre os turcos, aos títulos dos governadores de províncias do
Império Otomano.
·
Sufi
– termo árabe, que se refere aos praticantes de uma corrente mística e
contemplativa do Islã, onde se procura uma conexão direta com Deus através dos
Cânticos.
·
Ramêni
– órgão genital masculino, em árabe.
·
Curumim
– palavra de origem tupi que designa as crianças indígenas
·
Nheengatu
– também conhecido como nhengatu,
língua geral da Amazônia, ou ainda pelo nome latino língua brasílica, é uma
língua do Tronco tupi, da família Tupi-Guarani. É a língua materna de parte da
população cabocla do interior amazônico, além de manter o caráter de língua de
comunicação entre índios e não índios, ou entre índios de diferentes línguas.
Dois Irmãos - Síntese da reunião
A Reunião contou com presença significativa dos membros, e as apresentações entusiasmadas deram o que pensar. A discussão abrangeu aspectos literários, sociais e psicológicos, com enfoque na personalidade dos filhos, e com questionamentos diversos sobre a influência da mãe e do pai na dinâmica da família e no destino trágico dos laços afetivos. Destaque para o autor.
Milton Hatoun |
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Próximo encontro - Dois Irmãos, Milton Hatoun
DOIS IRMÃOS, de Milton Hatoun,
Dia 7 julho, quinta, 18 horas, na antiga sede.
Dia 7 julho, quinta, 18 horas, na antiga sede.
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