Sobre o Autor:
Dramaturgo, roteirista cinematográfico, poeta e
ex-diplomata, Francisco José Alonso Vellozo Azevedo nasceu no Rio de Janeiro em
1951. Começou a se dedicar à literatura em 1967, quando venceu concurso
promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Além de livros e peças
de teatro encenadas no Brasil e no exterior, Francisco Azevedo já escreveu para
mais de 250 produções, incluindo roteiros de longa e curta-metragem, documentários
e multimídias premiados e comerciais de televisão
Entrevistas:
GloboNews Literatura: http://globotv.globo.com/globo-news/globonews-literatura/v/escritor-francisco-azevedo-virou-sucesso-de-vendas-sem-nenhum-marketing/1954555/
Grupos Editorial Record: Entrevista - O arroz de Palma
Francisco Azevedo narra em O arroz de Palma, seu
primeiro romance, um século da saga de uma família portuguesa imigrante. O tema
da travessia e adaptação é recorrente na literatura brasileira, mas ao
investigar especificamente a chegada de portugueses, não o colono, mas o que
vem para trabalhar, Azevedo investe numa temática inédita. "Este meu
romance de estréia fala da saga de uma humilde família portuguesa que chegou ao
Brasil cheia de sonhos e projetos e que, transplantada neste solo, aprofundou
raízes, cresceu e deu frutos. Fala de minhas próprias raízes. Fala, portanto,
de mim e dos meus", disse Azevedo. O romance é marcado por uma escrita
lírica, delicada, em que os momentos de reflexão do narrador, um senhor de 88
anos que prepara um grande almoço para toda a família, são entremeados por
recordações deste século de família no Brasil. Embora as mudanças sociais e
culturais do país possam ser percebidas no romance, é dentro da família que o
autor maneja as transformações para amplificá-las: "O livro fala de
família. A transformação do país na imagem dos descendentes é a transformação
da própria família. Considerada falida nos anos 1960 e condenada ao
desaparecimento, a família situa-se, agora, neste início do século XXI, como a
mais sólida das instituições. Surpreendente? Nem tanto." Por meio das
memórias do narrador, o octagenário Antonio, Francisco Azevedo maneja com
esmero os diálogos, marca registrada em suas aclamadas peças teatrais como Unha
e carne e Coração na boca, entre outras. Antes de O arroz de Palma, Azevedo
publicou dois livros de poesia e prosa poética, Contra os moinhos de vento,
1978, e A casa dos arcos, de 1984. Posteriormente o autor se dedicou aos
roteiros cinematográficos, de ficção e documentários, e peças teatrais.
A imigração é um tema que vem ganhando espaço na
literatura brasileira. Como entende essa recorrência recente? Seria a
necessidade de olhar para trás, para as raízes? Qual foi o seu caso?
A recorrência não acontece por acaso. Nós, seres
humanos — os artistas principalmente —, estamos sempre antenados. Na literatura
ou nas outras artes, as tendências coletivas resultam, justamente, dessa
sintonia que está no ar e que tem muito a ver com o momento e a vivência desta
ou daquela geração. No que diz respeito ao tema da imigração, acredito, sim,
nessa necessidade de olhar para trás, para as raízes. Hoje, quando tudo é
questionado e se torna relativo, precisamos de pontos de referência, modelos
que nos transmitam um mínimo de certeza. Ir às raízes, mais que olhar para
trás, é olhar para o fundo, para o que não está na superfície. É olhar
simbolicamente para o que nos alimenta. É, enfim, tentar entender o que se
passa conosco com base também na experiência ancestral, tão rica e tão vasta. Fico
alegremente surpreso com as gerações mais novas que se interessam cada vez mais
pela ancestralidade. Querem saber nomes de antepassados, a ascendência, a
origem do sobrenome, o sangue (se português, italiano, alemão, espanhol,
holandês...). Na internet, já há sites que criam e desenvolvem gigantescas
árvores genealógicas! E entendo isso como uma busca afetiva — o que se quer é a
informação caseira sobre o parentesco e não a descoberta de possíveis origens
nobres.
Em O arroz de Palma, escrevo sobre nossas raízes
lusitanas. Não falo do colonizador, mas do imigrante. Da gente simples, honesta
e trabalhadora que veio em busca de dias melhores em terras brasileiras. Sempre
confundimos a figura do colonizador com a do imigrante. Talvez, por isto, haja
tantas histórias, filmes e seriados sobre italianos, alemães, japoneses, árabes
e outros povos que imigraram para cá e nada ou quase nada sobre portugueses.
Este meu romance de estréia fala da saga de uma humilde família portuguesa que
chegou ao Brasil cheia de sonhos e projetos e que, transplantada neste solo,
aprofundou raízes, cresceu e deu frutos. Fala de minhas próprias raízes. Fala,
portanto, de mim e dos meus.
A transformação do país, na imagem dos descendentes, é
figura que sai do pano de fundo para ser tratado como quase um dos personagens.
Quis abarcar essas mudanças sociais, políticas e culturais com o romance?
O livro fala de família. A transformação do país na
imagem dos descendentes é a transformação da própria família. Considerada
falida nos anos 1960 e condenada ao desaparecimento, a família situa-se, agora,
neste início do século XXI, como a mais sólida das instituições. Surpreendente?
Nem tanto. Embora sacudida por radicais transformações de comportamento, ao
longo das últimas quatro décadas, a família tem sabido superar suas
deficiências, passar por testes dificílimos e, com base em diálogo mais franco,
obter um maior entendimento entre seus membros: a aceitação do sexo antes do
casamento e da homossexualidade, a união entre pessoas de religiões, raças e
níveis sociais diferentes, o melhor entendimento entre casais que se separam e
a natural convivência entre filhos de casamentos diferentes são apenas alguns
exemplos de como essa instituição tem sabido evoluir e responder a novos
desafios. Embora ainda com resistências e intolerâncias aqui e ali, e apesar de
aparentes sinais de fragilidade, a família apresenta-se hoje como a instituição
mais credenciada para reger de forma responsável as mudanças que a sociedade
vem exigindo. Em O arroz de Palma estas mudanças estão presentes, é claro. E
Antonio, o narrador da história, é naturalmente envolvido por elas. O
romance pretende mostrar que, apesar de todos os seus erros e tropeços
cotidianos, a família busca se aprimorar. Ao se empenhar pelo acerto, essa milenar
instituição parece querer provar que nós, seres humanos, pelo próprio instinto
de sobrevivência, estamos fadados ao entendimento. Por isso, simbolicamente, o
livro também se refere a esta nossa atribulada família planetária e a ela é
dedicado: "Aos que já partiram, aos que aqui estamos e aos que ainda
chegarão. Família somos todos."
O livro começa no “presente”, mas rapidamente o
narrador recua para um século atrás e vem contando a história dessa família
quase linearmente, mas em pequenas historietas, fragmentos. Por que escolher
contar deste modo, ao mesmo tempo clássico e moderno?
A história de O arroz de Palma começa em 11 de julho
de 1908 e termina exatamente em 11 de julho de 2008, quando Antonio, o
narrador, já está com 88 anos e prepara um grande almoço em família. Acontece
que o enredo ocorre ao personagem em forma de lembranças isoladas e em um tempo
qualquer mais adiante, quando (não quero aqui revelar a razão) ele compreende o
“mistério da terreníssima trindade” e se dá conta de que é passado, presente e
futuro: três pessoas reunidas numa só. Neste momento principal, em que a toda a
história de O arroz de Palma lhe vem à mente feito cinema, apenas o leitor lhe
faz companhia. Os fatos, mesmo os mais remotos, estão tão vivos em sua memória,
que são narrados no "presente colorido do indicativo". O modo de
contar, ao mesmo tempo clássico e moderno, veio naturalmente, uma vez que, a
meu ver, era o que melhor convinha à narrativa, que contém diálogos que vão do
início do século passado aos dias de hoje, com conversas virtuais tecladas no
msn. Mesmo em se tratando de um romance, há também uma forte influência de
minha linguagem poética neste modo de contar. Acredito que a poesia esteja
presente em quase todo o livro.
O milagroso arroz de Palma é o fio condutor de um
século de trama. Mas, esquecendo a parte fantástica, o romance se debruça sobre
vidas normais, sem grandes aventuras ou reviravoltas. Essa literatura do
ínfimo, da delicadeza, é a que te agrada?
Sem dúvida. Mas não se espante se eu disser que essa
"literatura do ínfimo e da delicadeza" tanto pode estar na poesia de
Manoel de Barros, "que pensa renovar o homem usando
borboletas", como nos contos de Sérgio Sant’Anna. Em O arroz de
Palma, eu me debruço sobre vidas normais. São problemas comuns de uma família
comum. O próprio arroz, que serve de fio condutor, é mais simbólico que
milagroso. A história começa, em Viana do Castelo, Norte de Portugal, no
casamento de José Custódio e Maria Romana. Terminada a cerimônia, o arroz que
desaba sobre os noivos é torrencial, chuva branca que não pára. O cortejo segue
em festa pelo vilarejo, mas a romântica Palma permanece ali, feliz com todo
aquele arroz espalhado pelo adro da igreja. Muito pobre, decide com entusiasmo
que aquele é o seu presente de casamento para o irmão e a cunhada. No cartão,
escreve: "Este arroz — plantado na terra, caído do céu como o maná do
deserto e colhido da pedra — é símbolo de fertilidade e eterno amor. Esta é a
minha benção. Palma". Infelizmente, o arroz, dado com tanto amor, resulta
na primeira briga do casal. A partir daí, todos os conflitos, os dramas e as
alegrias da família giram em torno do arroz.
Esse é seu primeiro romance e no tratamento com a
língua percebemos um esmero literário bem diferente do que o normalmente
utilizado em peças de teatro ou roteiros, seus trabalhos anteriores. O arroz de
Palma, por isso, já nasceu como livro ou pensou em utilizar como outra forma
artística?
O arroz de Palma nasceu como idéia para uma peça de
teatro. Mas, com o desenvolver da trama, percebi que a história tinha fôlego. O
romance, é lógico, me permitiu dar asas à imaginação e contar a saga dessa
família sem estar preso às limitações naturais de uma produção teatral.
Minha formação é literária e poética. Em meus roteiros
e, principalmente, em minhas peças de teatro esta formação está presente,
inclusive, no trato que dou aos diálogos. Posso citar vários exemplos: Unha e
carne, com Denise Del Vecchio e Lilia Cabral, continha falas reflexivas que me
permitiam usar naturalmente a linguagem poética; Casa de Anais Nin, com Dora
Pellegrino e depois com Lucélia Santos, é um texto essencialmente poético e a
peça foi selecionada pela revista Bravo! como uma das melhores em cartaz em São
Paulo. Coração na boca, encenada no Brasil e no exterior e cujos direitos para
cinema foram adquiridos recentemente pela Total Filmes, também é exemplo dessa
influência poética e literária em meu texto de teatro. Fui homenageado e
convidado pela Yale University, como conferencista, para falar sobre a peça,
traduzida para o inglês com o título Three of Hearts.
Crítica 1
É uma criativa história de amor. É leitura para quem
gosta de refletir e buscar lições sobre os fatos que acontecem na vida
familiar. Se o autor fosse rotular o livro empregaria na ficha as palavras da
primeira linha da página 337: romance literalmente água com açúcar.
Para alguns isso é ofensa, para outros, elogio. A
história em algumas passagens me comoveu. Não cheguei às lágrimas, mas percebi
que se os fatos não foram verídicos, foram muito bem narrados e convincentes,
eu diria que merecedores de um romance como este que foi escrito por Francisco
Azevedo.
Toda a história se desenvolve nas lembranças do
narrador enquanto prepara um almoço domingueiro para a família. Por isso mesmo
emprega, principalmente no início, metáforas criativas como “família é um prato
que emociona”; “temperos exóticos alteram o sabor do parentesco, mas se
misturados com delicadeza tornam a família mais colorida interessante e saborosa”;
“não existe família à Oswaldo Aranha, Família à Rossini ou Família ao Molho
Pardo em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é
afinidade, é à Moda da Casa”. Conforme a narrativa se desenvolve o autor relaxa
a guarda e em vez de metáforas criativas abusa de clichês, lugares comuns e
ditos populares ao ponto de em uma única página (106) cometer “chutar o balde”;
“dou tratos à bola”; “mentira deslavada”; “Quem conta um conto aumenta um
ponto”. É perdoado por ser o linguajar que se encaixa no perfil do narrador.
Crítica 2
Primeiro romance a tratar da imigração portuguesa para
o Brasil no século XX, O ARROZ DE PALMA narra a saga de uma família em busca de
um futuro melhor, superando diversas dificuldades. Nos cem anos em que
acompanhamos suas vidas, irmãos brigam e fazem as pazes. Uns casam e são
felizes, outros se separam. Os filhos ora preocupam, ora dão satisfação. Tudo
sempre acompanhado pelo arroz jogado no casamento dos patriarcas, José Custódio
e Maria Romana, em 1908. Grão que serve de fio condutor desta história, como
migalhas de pão jogadas no labirinto da memória.
Estréia na literatura do roteirista e dramaturgo
Francisco Azevedo - autor das peças Unha e carne e A casa de Anais Nin,
sucessos de público e crítica -, o livro começa com Antônio, filho de José e
Maria, aos 88 anos, preparando o almoço que será servido à família, finalmente
reunida após muito tempo. Enquanto combina os ingredientes, vão se misturando
em sua mente as histórias que Tia Palma, irmã de seu pai, lhe contava.
Mitologias familiares, que gravitam em torno desse arroz e também em torno das
dificuldades em se largar uma terra amada por um futuro duvidoso.
Tudo começa no casamento dos pais, em Viana do
Castelo, norte de Portugal, seguindo a tradição, o casal saiu da igreja sob uma
chuva de arroz. Recolhido por Palma, esses 12 quilos de arroz foram
acompanhando a família, sendo fundamentais em vários momentos. Como quando,
para tratar da infertilidade da cunhada e do irmão, Palma dá a ele um laxante e
depois prepara uma canja com esse arroz. O mesmo que ela presenteia ao sobrinho
Antônio no dia de seu casamento. Uma união selada num almoço em que a família
serviu esse arroz com bacalhau. O ARROZ DE PALMA é um romance delicado, que
emociona e comove. Com um certo ar de Isabel Allende, a trama tem um forte
componente sentimental. Uma nostalgia por um tempo em que a família abrigava as
pessoas. Um ideal que, portugueses ou não, todos herdamos.
Este livro é contado por um 'velho' de 88 anos...que
está preparando um almoço de família...reunindo toda a família: mulher, filhos,
netos, irmãos e seus descendentes...
Antônio é o filho mais velho do casal português José
Custódio e Maria Romana que vem para o Brasil juntamente com a irmã de José
Custódio, 'tia' Palma logo após o casamento, por aqui eles vão morar em uma
fazenda no interior do Rio de Janeiro onde trabalham com o casal Sr. Avelino e
D. Maria Celeste...a amizade entre os casais é muito forte...os primeiros
filhos dos casais Antîonio e Isabel, nascem no mesmo ano e crescem
juntos...depois se casam...e têm filhos...e a história é narrada de uma forma
deliciosa...é um poema a forma como Francisco Azevedo narra a 'saga' de uma
família...muito emocionante e cativante...
OBSERVAÇÕES DE VERA GUIMARÃES:
Mais um encontro de sucesso, desta vez para
discutirmos O ARROZ DE PALMA, de Francisco Azevedo.
O livro foi apresentado por Lília e o debate teve a
participação de todas.
Como se trata de um livro de memórias, levantei dados
sobre o assunto. Aguardo contribuições de quem se lembrar de algo mais.
MEMORIALISMO/ MEMORIALÍSTICA
“A vida não é relatável.” Clarice
Lispector, A Paixão Segundo G.H.
“Memórias são a escrita da alma.” ?
“A memória é uma ilha de edição”, Wally
Salomão, poeta e compositor.
MEMORIALISMO
Conceito que abarca as características
dos relatos em 1ª. pessoa, que se manifestam em diversos gêneros literários
(autobiografia, diário, correspondência, literatura de viagens, poesia lírica)
e cujas marcas principais são a subjetividade e o confessionalismo, real ou
fictício.
A escrita em forma de memórias pode ser um recurso
narrativo adotado por um autor para dar forma literária a uma obra fictícia. O
memorialismo fictício supõe a elaboração de uma obra que, de um modo ou de
outro, simule a produção de um livro de memórias.
DIFERENÇA ENTRE MEMÓRIA E AUTOBRIOGRAFIA
A narrativa de memórias às vezes é confundida com
biografia ou autobiografia, não obstante a diferença entre os dois gêneros:
enquanto a biografia se interessa por um personagem relevante do ponto de vista
histórico, literário, científico etc., e narra fatos da sua vida, a memória
pode ser interessante mesmo quando se refira a personagens sem qualquer
relevância pessoal, residindo seu interesse no testemunho de uma época, de um
ambiente social, de um período histórico, de costumes familiares, linguísticos
etc.
MEMORIALISTAS NA
LITERATURA BRASILEIRA – Trechos extraídos de De Taunay a Nava: grandes
memorialistas da literatura brasileira, do Prof. Dr. Paulo BUNGART NETO (UFGD)
“A produção memorialística é fenômeno
relativamente recente na literatura brasileira. Se as crônicas e os registros
históricos se iniciam já em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D.
Manuel, e a poesia e o teatro brasileiros, com os poemas e autos de José de
Anchieta, as primeiras obras do gênero memorialístico, entre nós, surgem apenas
durante o Romantismo, no final do século XIX.” (...)
“O memorialismo brasileiro já deixou
registrados o pavor e as atrocidades de uma guerra absurda (as Memórias,
de Visconde de Taunay, sobre a Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice
Aliança), o ambiente inescrupulosamente pecaminoso dos internatos masculinos
(tema das obras Balão Cativo e Chão de Ferro, de
Pedro Nava, e do romance autobiográfico O Ateneu, de Raul Pompéia).
Por falar em romance, simultaneamente ao início da prática regular de escrita
memorialista por parte dos ficcionistas românticos, é através de um romance de
“memórias” (as Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, publicadas em 1881) que a escola realista se impõe em nossas terras.
Quase trinta anos depois, Machado ainda traz à lume o Memorial de Aires(1908),
escrito na forma de diário pelo diplomata aposentado, o Conselheiro Aires. Além
disso, é preciso evocar as lúdicas Memórias de um Sargento de Milícias,
de Manuel Antônio de Almeida.” (...)
O Romantismo é, portanto, a primeira
escola literária brasileira a produzir (bons e, às vezes, ótimos) textos de
cunho memorialístico, como as obras Como e por que sou romancista,
de José de Alencar; Minha vida: da infância à mocidade e o
sugestivo Quando eu era vivo, de José Joaquim Medeiros e
Albuquerque; e, sobretudo, as Memórias do Visconde de Taunay,
sobre as quais me deterei um pouco mais adiante.
Antes do boom do
memorialismo no Modernismo brasileiro, (...)é preciso evocar a obra de Lima
Barreto, sobretudo o romance Recordações do escrivão Isaías
Caminha e sua obra memorialística O cemitério dos vivos,
ambas as obras repletas de confissões de traumas, dependências químicas e
dificuldades de inserção social e profissional. Rotuladas como
“pré-modernistas”, as obras de Lima Barreto antecipam muitas das técnicas
modernistas, abrindo caminho para a consolidação de uma tradição confessional
que marcou grande parte da literatura brasileira do século XX.
“Memorialismo modernista no Brasil: antes e depois de
Proust
O memorialismo modernista brasileiro sofreu obviamente
um grande impacto no início do século XX devido à publicação da obra A
la Recherche du Temps Perdu, de Marcel Proust, nas décadas de 1920 e 1930.
Lida em geral no original em francês (pois só foi publicada em edição
brasileira a partir do final da década de 1940, pela Editora Globo, de Porto
Alegre), a história de Marcel, a da lembrança involuntária a partir do bolinho
molhado no chá, repercutiu, direta ou indiretamente, com maior ou menor
intensidade, nas obras memorialísticas da literatura brasileira, que surgiram
em profusão. (...) Alguns exemplos, para ficar apenas dentre os autores mais
canônicos:Itinerário de Pásargada, de Manuel Bandeira; Um Homem
sem Profissão: Sob as Ordens de Mamãe, de Oswald de Andrade; Meus
Verdes Anos, de José Lins do Rego; Solo de Clarineta, de Erico
Veríssimo; A Idade do Serrote, de Murilo Mendes; Viagem no
Tempo e no Espaço, de Cassiano Ricardo; Infância e Memórias
do Cárcere, de Graciliano Ramos; A Menina do Sobrado e Explorações
no Tempo, de Cyro dos Anjos; e Pobre Memórias de um Homem, de
Dyonelio Machado. Isso apenas em termos de grandes poetas e ficcionistas que
deixaram memória ou autobiografia em prosa. Sem falar nos casos de memorialismo
poético (como nas obrasBoitempo, de Carlos Drummond de Andrade, e Memórias
Inventadas, de Manoel de Barros), de intelectuais que, não se notabilizando
como ficcionistas, escreveram obras essenciais no gênero, como o jornalista
Fernando Gabeira (O que é isso, companheiro?) e os críticos literários
Augusto Meyer (Segredos da Infância e No Tempo da Flor),
Gilberto Amado (História da Minha Infância); Agripino Grieco (Memórias,
em vários volumes), Tristão de Athayde (Memórias Improvisadas), Carlos
Dantes de Moraes (Um solitário à Procura da Vida – Fragmento de
Autobiografia) e Silviano Santiago (O Falso Mentiroso) e do caso
mais paradigmático e assombroso da memorialística brasileira, a obra, em sete
volumes (publicada entre o início das décadas de 1970 e de 1980), de Pedro
Nava, médico reumatologista, poeta bissexto e frequentador assíduo das rodas
literárias belo-horizontinas na companhia de Drummond, Emílio Moura, Rodrigo de
Melo e Franco, etc. “ Os livros de memória de Pedro Nava são: Baú de Ossos,
1972; Balão Cativo, 1973; Chão-de-Ferro, 1976; Beira-Mar,
1978; Galo-das-Trevas, 1981;O Círio Perfeito, 1983; e Cera
das almas, póstumo, incompleto, 2006.
MEMORIALISMO NO CINEMA
Verao de 42, de Robert Mulligan, 1971, http://m.imdb.com/title/tt0067803/
Stand by Me, 1986, de Rob Reiner, http://m.imdb.com/title/tt0092005/
Esperança e Glória, 1987, de John Boorman, http://m.imdb.com/title/tt0093209/
Tempo da Inocência, 1999, Hugh Hudson, http://m.cineclick.com.br/tempo-da-inocencia
Quadrilogia de Marcel Pagnol: Jean de Florette, Manon
des Sources, La Gloire de mon Père, Le Château de ma Mère, http://m.imdb.com/name/nm0656528/
CONSULTAS
Memórias/Saudosismo na MPB
> MEUS TEMPOS DE CRIANÇA, Ataulfo Alves, http://m.vagalume.com.br/ataulfo-alves/meus-tempos-de-criaanca.html
> TECOTECO, Gal Costa
> DOZE ANOS, Chico Buarque
> LAMPIÃO DE GAS, Zica Bergami
> MEU PEQUENO CACHOEIRO http://m.letras.mus.br/roberto-carlos/82949/
> TRILHOS URBANOS, Caetano Veloso, http://m.letras.mus.br/caetano-veloso/44784/
> CORDAO DA SAIDEIRA, Edu Lobo, http://m.letras.mus.br/edu-lobo/436785/
Alguém se lembra de
outras?
Nenhum comentário:
Postar um comentário